quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Explica-me, amor


Explica-me, amor, para que eu consiga entender,
Os porquês das verdades imperfeitas,
Mutiladas, inacabadas, desfeitas
E que variam sem regras e com o querer.
Realidades aparentes e desgarradas,
Em vocábulos sem nexo e vazios:
O jogo das palavras multiplicadas.

Os porquês dos sonhos incompletos,
Truncados, ilegíveis e incompreendidos.
Idealidade frustrada na ilusão dos sentidos,
Em névoas de desejos concretos.
A fantasia que adoça a amargura,
Em suaves termos sem vínculo,
E que, outras vezes, acidifica a brandura.

Os porquês dos desejos autênticos retraídos,
Reservados, tímidos e discretos;
Dos anseios incertos e incompletos,
Que de tão intensos e certos parecem fingidos.
Os caprichos insondáveis e inconsistentes
Nas oscilações vibrantes de humor,
Carregos e tropeços para pessoas descontentes.

Os porquês da persistente incompreensão,
Intolerância usurária ou fingida e fanatismos;
A solidariedade que chega em teatrais dramatismos;
O fictício ombro amigo, de extremosa compaixão.
A força de não aceitar as diferenças esmaga a minoria
Contraída, que crispa em outra força de vingança.

Os porquês dos sorrisos pálidos, forçados, contrafeitos,
Na lenta espera do agrado conveniente que desculpabiliza.
Mostrar forças que não se tem, em ânsia que se concretiza,
No arquear manifesto de trejeitos que se mostram satisfeitos.
E essas alegrias figurativas de consolação cortês, forçadas,
Que povoam de comiseração os mais desvalidos ou pobres,
Em dádivas de migalhas sujas: Sobras espezinhadas.

Os porquês dos embustes, das manhas, dos ardis,
Artifícios apoiados e sustentados na falta de diafanidade;
Da crueza pintada e descrita como uma necessidade,
Urgente, no enganador combate às presunções senhoris;
Do protocolo rígido de uma aparência elegante, adoptada,
Que aponta para as miragens de uma alma constrangida,
No presente póstumo de uma herança furtiva e forçada.

Os porquês dos olhares ausentes, despojados;
Dos esgares compassivos, sem cálculo, ao abandono;
Da moderação que vê sem olhar e com sono,
Nuns olhos mortiços, vagos e descarregados;
Da visão desfocada num ponto do infinito,
Sem confiança e certeza de tamanho ou medida;
Da inexpressiva representação fria do grito.

Os porquês de muitas outras perguntas volúveis
Que nos assaltam, com ou sem pudor, diariamente;
Das incursões de acerto meditativo de um demente;
Das vidas impetuosas, célebres, extasiadas e solúveis.
Explica-me porque urge o tempo perdido
Na voragem, e em prol, de uma modernidade.
Eu escuto. Porquê, amor desconhecido?

3 comentários:

  1. Tu também. Tantas perguntas. Pensei que só eu fosse inquisidora, louca a ponto de querer saber tudo de quem nada me diz. E se me dissesse de que adiantaria? A maior parte não ouviria por querer fugir e não aguentar e ainda assim ficaria, para ao ouvir me situar... Perdida no tempo, nas brumas do disfarce que não destrinço e da revolta que me é dirigida. A bofetada fácil,o corte incisivo, destrutivo... em tudo e no nada... Tanto que eu também me pergunto e nada obtenho...Num amor Desconhecido? Sem tamanho!
    Adorei o teu poema como sempre fez-me pensar muito enquanto lia e perdoa-me se me atrevi a expressar-me assim, mas quase confissão é sentido, como o teu sentir se sente tão abrangente. Obrigada por escreveres assim. Um beijinho. Bom dia de amanhã.

    ResponderEliminar
  2. Olá, Noctívaga!
    Agradeço-te, sinceramente, o comentário, a visita e tua bondade.
    Desejo-te um bom dia, também.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  3. Li este post nos dias em que estive meio ausente mas a intensidade que alberga é tão forte que não arranjei na altura palavras para comentar.

    Pensei que hoje conseguiria. mas ao que parece não consigo. Gostei demais!

    Beijinho :)

    ResponderEliminar

Obrigado, pelo seu comentário!