Olho para a
superfície lisa, que reflecte a minha imagem,
E
identifico as marcas de expressão, muito expressas,
Evidentes,
mas despontadas sem grosseiras pressas,
Que
denunciam, do tempo, a sua incontornável passagem.
Noto a
falta do cabelo perdido despreocupadamente, e sem pena.
Identifico-me,
sem números e sem ilustrativa legenda.
Felicito a
expressão tranquila, harmonizada e a alegria serena,
Contentamento
puro, como despretensiosa e singela prenda.
Há muito
que não me olhava tanto e tão aturadamente.
Reconheço-me
e reconheço o brilho dos olhos castanhos,
O nariz
fino e que encima o traço da boca, sem arreganhos.
Como é
familiar o rosto oval e a testa alta é convincente.
Asseguro-me
de que não me esqueci da minha figura.
Não há
peso, preocupação, cálculo ou avaliação.
Não há
tristeza, sofrimento, mágoa ou amargura.
É um
simples olhar sem afeição, esgar ou admiração.
Abandono a
duradoura e insistente acção sem movimento
E
movimento, sem sequela, o corpo, para o descanso
De uma
cadeira generosa, onde, sentado, tudo alcanço
E onde
alinho, sem duplicidade ou simulação, o entendimento.
Os anos
passam neste corpo usado, testado e maduro
E não os
condeno, nem os recordo com toda a minúcia.
Dou
continuidade a uma vida, frágil e preciosa, que asseguro.
Não me
atormentam os anos vindouros, a quantidade ou a astúcia.
Reservo uma
inspiração para a alongar e encher-me de ar,
Que
projecta o peito, numa expressão de força e vitalidade.
É o pequeno
prazer de um suspiro e não uma efémera vaidade.
Sou feliz
e, quando não o sou, esforço-me para perpetuar
O sorriso
decorado de quem é feliz sem entendimento.
Sem
reconhecer que há felicidade em coisas pequenas,
E em
pequenas e comuns se agigantam no sentimento
E na
dimensão de coisas essenciais, propícias e amenas.
Não sou
grande, nem ilustre e o meu grande feito é viver.
Viver como
quem vive, e nem sempre o consigo, desprendido.
Por vezes
sigo errante e em contratempo, perdido.
Não
importa, isso hoje não me vai ocupar ou deter.
Devo estar
com aspecto seráfico, neste sorriso rasgado,
Evidente,
luminoso, construído e, simplesmente, corajoso.
De olhar
feliz e brilhante, no semblante despreocupado.
Na vida é
fundamental procurar ou forjar a satisfação e o gozo.
11/10/2007
Gosto de te ir conhecendo assim!
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