terça-feira, 15 de novembro de 2011

(A)pós poeira


(A)pós poeira

Há muito que deixei o apeadeiro
E segui viagem, sem paradeiro.
Lamento não ser imenso,
Ainda que a minha fortuna
(Em todos os seus significados penso)
Não dobrasse, de forma oportuna.
Gostava de não perder a companhia,
Na dura jornada do dia-a-dia,
Mas não disponho do dom da ubiquidade,
O que, também, não é uma infelicidade.

Eu não hibernei,
Nem, deste pedaço de vida, me apaguei.
De existência gasta entre sãs ou forçadas alegrias:
Sempre por uma causa, que não está em causa;
Sempre num trabalho que não tem horas, nem dias;
Pouco num repouso, lazer ou curta pausa;
Em muitos relatos, relatórios, viagens sem ócio,
Porque, não sou abastado, patrão ou sócio,
Talvez, hipérbole ou sinónimo forçado, mas forçoso.
Sim, estou cansado, lento e sem gozo!

E quem destruiu a minhas ilusões senão eu?
Também tomei decisões, acreditei. Doeu.
Muitas vezes acredito na bondade,
Na dádiva desinteressada de um conhecido,
Na alheia representação da necessidade,
No andar trôpego de um individuo perdido.
Outras vezes não vejo o evidente
Ou iludo-me com o que é aparente,
Mas isso não faz de mim um ignóbil torpe.
Desdenho essas sentenças de morte.

Sim, tenho tristezas, decepções, amarguras.
Sou assaltado por melancolias, exaltações e agruras.
Sinto necessidade de estar só e sem solidão;
Experimento o vazio, a ansiedade e o tormento.
Tenho necessidade de comer, mas fome… Não!
A carência não é defeito e nem sempre é sofrimento.
O aperto e a urgência são medidas imprecisas,
Mas exactas na consciência, por razões indecisas.

Procuro a aprovação em mim, concluo,
Num percurso desconhecido que continuo.
Conhecedor, sem ser versado em coisa alguma,
Das dificuldades, reflexos e embaraços
Entre a vontade e a realidade que se consuma
Em hiatos, tropeços, acasos e pedaços.
Contenta-me o afago na despedida provisória,
Apraz-me a lembrança serena e sensória
E, muitas, vezes fico feliz com um sorriso,
Com um aceno de um gesto impreciso.



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