Dupla prenda
Ainda não realizei em mim o fundamento.
Posso dar muitas voltas para entender a razão,
E ir e voltar sem perceber, sem encontrar explicação.
Posso, apenas, ficar com o meu descontentamento,
Porque o acto não mereceu um simples comentário,
Ou uma palavra atirada, simples, medíocre ou grosseira.
Porque a acção foi perpetrada com um rancor ordinário
De quem desfaz, orgulhosamente, uma bondade interesseira.
Na passagem desse vendaval, de desmedida confusão,
Estranho muito a tua estranha forma de dar,
Que é oferecer um presente para depois o tirar.
Não falo de amor, amar, sentimentos, afeição.
Não falo do hipotético valor, mas de valores.
Falo do objecto dado em nome de outra pessoa,
Depois retirado em nome próprio, sem clamores.
Sem pensar ou a desejar que a acção pese, doa!
Se por acaso foi dado sob alguma inexplicada condição
E o uso, o apreço, o apego e afecto que lhe dediquei,
O lugar, que tão junto a mim e carinhosamente, lhe reservei,
Não estiveram à altura da imaginária e velada pretensão,
Será motivo para que, manifesto e aclarado o intuito,
Seja retirada a oferenda, sem qualquer reparo ou indicação?!
Ou é um acto reles, rapinador, cobarde, violento e gratuito?
(Concedo-me um breve, mas reparador, momento de exaltação.)
Claro que, quando me apercebi, fiquei fulo, enfadado!
Mas, cravo a intenção no desprezo que é merecido.
Não peço de volta o gesto sincero de agradecido.
Não é por desuso que não desejo o provérbio realizado.
( «Quem dá e volta a tirar ao Inferno vai parar» )
É por não acreditar e não ser essa a minha consciência.
É por não querer e não desejar o tormento de odiar.
É por ter mais onde gastar o tempo e pela decência.
Primeiro, o presente recebido. Depois, o presente que é o facto de ficar sem ele.
Só posso sorrir. Nem sabes como este poema tem a ver com o que sinto. Um presente oferecido e não estimado que num segundo se vê não retribuído e repleto de desagrado... Chego à conclusão que o meu "presente" nunca o foi e se foi acabou envenenado...Resta-me sim um inferno de castigo e de eterna consumição. Obrigado gostei muito, muito mesmo...Embora não me "agrade" a lembrança. Um beijinho.
ResponderEliminarLembranças antigas Tugazzar? Ainda te remoem aí por dentro?
ResponderEliminarTens de te libertar para conseguires seguir, tu és um homem inteligente (eu tenho-te por essa conta) liberta-te daquilo que não te faz bem.
beijinho
Verniz Negro:
ResponderEliminarA poesia vive de sentimentos intensos. Retalha e analisa com minúcia as emoções, as mágoas e as dores da alegria e da tristeza.
Obrigado pela visita e pela partilha/comentário.
Um beijinho.
2linhas:
ResponderEliminarSão lembranças que vejo aflorar em presentes actos presentes. A escrita e a leitura são, também, mas não só, uma forma de exorcizar demónios.
;)
Beijinho
Hoje não o escreveria desta forma e se comprovadamente não existisse não o colocaria, em post (como entrada), de novo. Há poemas, ou textos, que tenho colocado neste blogue e que foram colocados inicialmente em outros blogues (meus), não porque os considere peças de relevo ao nível da escrita, mas porque tiveram um lugar de destaque em mim (uns mais do que outros). Por isso, e pela real falta de tempo para criar muitas "coisas" novas, pretendo partilha-los de novo.
ResponderEliminarEntendo...
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