Saudades de mim
Há quem coma,
porque nunca se sacia.
Eu não sou activo!
Eu não sou um herói!
Eu não sou atractivo!
Não sendo a lei,
sou quem nunca fui,
nem, de modo algum,
serei.
Razões não tenho,
nem delas me quero
encher.
Mostro sempre ao que
venho
e o que posso perder.
O meu perder é igual
ao teu,
em feitio e forma,
e acontece-te como me
ocorreu.
Como tu, sou um ser
humano,
indivíduo sujeito ao
engano.
Por mais que
desesperes,
porque sempre mudas,
eu não sou quem tu
queres,
nem nunca hei-de ser,
porque logo me estou a
perder.
Perdido,
e mesmo assim,
estou esquecido,
errante deserto de
jardim.
Eu não sou activo!
Eu não sou perfeito!
Mas, eu não sou
passivo!
Não sendo lei,
fui para o
esquecimento
e de lá não voltei.
Razões não posso dar,
se dizes que não as
possuo.
Opinião sem arbitrar
é o pomo de discórdia
que fruo.
O meu poder é igual ao
teu!
Salobro, saloio,
pequeno,
num préstimo que pouco
deu.
Estranho e inútil
atributo,
ele sim, irresoluto.
O pequeno mundo,
dos mal-entendidos,
daqueles que, num
segundo,
me respeitam e
transformam
e logo me subvertem e
transtornam.
Com um pouco de nada
e outro de coisa
nenhuma,
antífrase aprumada,
sou preenchido por uma
lacuna.
Há quem não coma,
porque não tem mesmo o
quê.
Estou cansado!
Estou dorido!
Estou saturado!
Quero deitar-me e
dormir,
mas não um dormir de
fingir.
Dormir e acordar
sossegado,
sem sono,
sem vontade de ficar
fatigado,
sem dono.
Quero ser eu,
apenas eu, em
consciência,
aquele que se perdeu.
Quero repetir-me, longamente,
aquele que se perdeu.
Quero repetir-me, longamente,
alongar-me imensamente.
Quero sorrir sem pagar por isso.
Quero ser eu,
cansado de ser omisso,
tenho saudades de mim.
Quero repetir-me sem fim!
Quero repetir-me sem fim!
Quero poder ser
sincero,
e sê-lo discreto.
e sê-lo discreto.
Gritar, falar e calar
(espero),
sem recurso ou
decreto.
Estou cansado!
Estou amargo!
Estou amargo!
Estou despojado!
Quero deitar-me e
dormir,
mas não um dormir a
fugir.
Dormir e acordar povo,
ser gente,
sem vontade de dormir
de novo,
contente!
Quero ser eu,
não importa que seja
breve;
não importa que seja ateu.
não importa que seja ateu.
Deveria ser já,
a hora nem é boa, nem
é má!
Quero, mais do que
olhar,
ver como é,
e ser mimado como
gosto de afagar.
Que importa se sou
mansarda ou jasmim,
quero repetir-me sem
fim!
Vontade,
quero dormir justo,
num verso junto à
cidade,
no campo, a todo o
custo.
Espectacular nem tenho mais palavras. Excelente! um grande beijinho. E dorme descansado... Sim! Porque mereces.
ResponderEliminarSaudade de mim.
ResponderEliminarO título diz tudo.
Verniz Negro:
ResponderEliminarA este poema chamo-lhe: poesia menor! Dirá muito pouco a muitos mas, foi muito sentido, acredita.
Obrigado!
Beijinho
2linhas:
ResponderEliminarSim, de certa forma poderia riscar todo o poema, ficava com o título num breviário e continuaria, ainda assim, a sentir as mesmas linhas.
Sabes, tenho-me retraído, efectivamente, com as “linhas” . O termo acaba por se prestar a tanta dissertação e não queria beliscar, sequer, a 2linhas. Já tive alguns dissabores com o “ponto” e com o “laço”.
Beijinho
Não sei o que responder, mas digo apenas que conheço bem as marcas desses beliscões, acredita.
ResponderEliminar;)
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