Aveiro, por estes dias, cheira a asfalto quente, novo;
Embota-se em múltiplas obras, particulares e camarárias.
A cidade reclama, reclama sempre e invariavelmente,
Das obras que, se não se fazem, urgem, de todo, ao povo
E, ao fazer-se, para os mesmos, são de todo desnecessárias.
O pensamento vacila entre o habitável e o inóspito, compasso,
Como quem acaba de encontrar a realidade oscilante.
Os relógios procuram, apenas, a paz desentediante
Na cidade, nos amigos, nos sentimentos, no tempo, no espaço,
Todos em obras, todos a ronronar ao céu autocolante.
E eu, o que faço nestes refúgios imaginários de embaço?
De uma ou de outra forma, dançamos com os vírus,
Na abundância da solidão e no infortúnio dos suspiros,
Agarrados aos dispositivos, chamados de “pessoais”,
Profusamente escrutinados em processos institucionais
Ou em procedimentos de salteadores digitais.
A cidade reclama, reclama sempre, e cada vez mais, politicamente;
Tudo é um drama, trampolinice, hábito, recôndito, hipocrisia.
Nesta barafunda, levam-te a credulidade, a consciência e a alegria.
Séculos de ninharias reduzidos à volúpia de quem mais mente.
Que saudade do ulmeiro, o meu bom e velho amigo,
Transplantado no outro lado da cidade, parque dos amores,
Estagnados, onde, agora, concede abrigo. Podado abrigo.
Paupérrimos braços, ramos, de paupérrimas cores.
Delimito o prazo; protelo o abraço; realizo a visita e prossigo,
Com a fragilidade das pequenas coisas, repletas de rumores.
E, sim, tenho fantasmas que se assustam comigo.
E amo de Aveiro. E amo Aveiro.
[miscelânea]
[20
de julho de 2021]
O alvoroço das obras, o frenesim da cidade, o tumulto do interior, que se abraçam e dançam, onde há espaço para amar e amar a cidade.
ResponderEliminarGosto muito.
Bjks
A invasão das novidades citadinas... ao nosso espaço interior... e a nossa adaptação ou inadaptação perante tal... mas o passado ganha-nos sempre! Sempre achamos que o que não volta a ser... era a melhor versão, do que já lá não está! Falo por mim... e da transfiguração que Lisboa sofreu, nos últimos anos... e no caso... nem sempre para melhor...
ResponderEliminarQue Aveiro se reinvente, de uma forma positiva, saudável e cativante!
Adorei o poema... mais um, que nos mostra a tua paixão, por esta bela cidade!
Beijinhos
Ana