quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Minutos de viagem




Ó motor elétrico, quase silencioso 
– Digo eu de volante em punho – 
Que me trazes a casa tão diligente, 
Em explosões [eu] de raciocínio e gozo, 
Agradecendo a planura da humilde estrada, 
Que nos carrega, tão indiferente. 
Ó motor elétrico, quase como se fosses meu, 
E eu quase me esqueço de ser ateu. 
 
Ah, acelerações suaves, progressão decidida, 
Que sonho lindo de viagem utilitária. 
Se não vamos a tempo de salvar a Vida, 
Salve-se o Verão e a postura gregária. 
Ecologia. Ecológico dentro de ecológico. 
Fantasia. Quase esqueço o dia ilógico. 
 
Consigo ouvir pensamentos em negrito: 
-Que merda, com ares grife e pingente chique! 
-Credo! Regurgito, regurgito! 
-Não sei se chore, se vomite! Se vá ou se fique! 
-Que bonito, que bonito, que bonito! 
-Que é isto!? Não acredito… 
 
Ouço de tudo e entrego-vos a uma Nossa Senhora; 
Ou à salvação a que vos quiserdes entregar, e se aplique; 
A um mantra poderoso, ou a uma ladainha protetora. 
Denunciem-me. Denunciem-me, até que acredite. 
Entretanto, eu, faço o resto do caminho a pé, 
O veículo não me sobe as escadas, nem por fé. 
 
 
 [miscelânea] 
 [03 de agosto de 2021] 
 


4 comentários:

  1. :))
    Que viagem! Creio que estará, de certa forma, associada, ou será uma pequena provocação, à nova suspensão do teu blogue. Tentei aceder, no início de agosto, e não foi possível. Escreveste por aí, twitter (?!), que tinha sido bloqueado.
    Independentemente de motivos, ou suposições à parte, ou do que outros/as possas ouvir, gostei de te "ver" sair do trilho. Gostei do poema.
    Bom fim de semana!
    Bjks

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  2. :-)) Não haverá veículo elétrico que passe por mim, nos próximos tempos, sem que eu pense neste teu formidável poema...
    Adorei!!! Beijinhos
    Ana

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