terça-feira, 3 de outubro de 2017

Apontamento de voo




É provável que passem nuvens muito escuras nos teus olhos, 
que descubras monstruosidades desconhecidas no teu cérebro. 
Mas, talvez seja preferível assim, e não o fazer em pleno voo. 
As casas de banho do amor são como todas as outras: 
cheiram mal, se não as lavarmos, e é ali que nos aliviamos, 
até de algumas ilusões, necessária ou fatalmente, é relativo, 
ou fatal e necessariamente. Talvez, demorada e furtivamente. 
Tentamos dar-lhes um ar atractivo, um toque afável, sem assédio, 
ter um quê de aprazível e de dignidade colados ao próprio corpo, 
quase sem luz, porque, quase, quase só sombra, repleto de piedade 
da própria vida e a fervilhar de natureza. Um pouco de audácia, 
outro de cobardia, em partes a gosto ou em partes à sorte. 
Depois, o voo prossegue, a vida não teve, sequer, intervalo 
e, visto de cima, tudo tende a ser, concludentemente, mais belo. 

 [sobrevoo]




4 comentários:

  1. Ai se o amor fosse assim tão bem compartimentado... seria um tema sobre o qual já estaria tudo dito, por ter contornos físicos, definidos... mas passamos a vida a querer tê-lo nas nossas vidas... e nunca nos chega... e por isso sempre será um sentimento e um tema inesgotável... numa vida sem intervalos...
    Só se vive, para trazer amor, para dentro das nossas vidas...
    Mais uma vez, voando por aqui, nas tuas palavras...
    Beijinhos
    Ana

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