segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Uma sugestão de apresentação




Olá, aqui estou, sou de barro e sinto no meu barro o prazer do voo. 
Encontrei a incompreensão, mas, pelo menos, aprendi a conjugar os sons; 
a aquecer-me no vacilo do sol de outono; a resguardar-me das almas 
de paixões sangrentas; e a confundir-me nas sobras da noite e sombras da lua. 

A sombra não morre, a luz confere-lhe um pouco mais de dimensão 
e clareza. As palavras aparecem gastas, cansadas, espalham-se pela ideia 
de existirem para além do criador e do leitor, trabalham essa possibilidade, 
mas não querem morrer. A poesia não quer morrer. O amor não quer morrer. 
Eu não quero morrer. E o céu hesita nos olhos de toda esta urgência narrativa, 
de toda esta urgência de movimento e vida, e nos olhos da multidão impaciente, 
no exacto instante em que retomo o voo. O céu não pode falhar. Eu não posso 
falhar e vivo e voo, mesmo quando o sonho falha, não voa ou morre. 


 [sobrevoo]



3 comentários:

  1. Uma apresentação fantástica, Henrique! Extasiante! :)
    Bjks

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  2. Porque será que tantos se fazem passar por pedras... quando somos todos feitos de barro?...
    Aonde será que se perde a essência primordial?...
    Felizes dos que continuam a ser de barro... e que reconhecem que o são!... Continuam vivos... amam, sofrem e voam... de alguma forma... e falham... e continuam vivos... para poderem ter oportunidade de acertar de novo... ou falhar de novo... cada vez melhor...
    Pois, só posso dizer, que aprecio a matéria prima, de que és feito...
    Beijinhos
    Ana

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