quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Depois do último apontamento de voo




Chegam a cidade mais gaivotas. Tantas que parecem ser todas 
as gaivotas, um único e gigantesco bando de gaivotas silenciosas. 
Tentam acomodar-se pelos canais, pelos terraços, varandas, passeios, 
ruas... disputam todos os espaços físicos numa grandiosa ordem, 
mas, estranhamente, em silêncio. Tudo isto gera uma diversidade 
de sentimentos, que geram palavras, não nas gaivotas. E as palavras 
repetem os sentimentos ou geram novos sentimentos, que produzem 
mais palavras que ganham sons. São agora as palavras que criaram 
estes sentimentos e toda esta confusão, onde: o dia não se importa; 
o ulmeiro ri, perdidamente; a higiene do amor fica esquecida,
como que numa loucura sumariamente albuminada; e o verso voador 
vai de encontro ao vaso de poesia, que esta à janela a sonhar, 
por ver os banais sábios de sempre a debater a luxuria das nuvens. 
Tudo fruto de mais palavras, já em itálico, já em carne viva e pasmos. 
Não se perde a poesia. Não chames o passado, que temos toda a vida. 


 [sobrevoo]



3 comentários:

  1. Há qualquer coisa de obsceno, imoral... quando a ordem e o silêncio reinam, à nossa volta, em qualquer circunstância... vai contra a nossa verdadeira natureza... um verdadeiro convite... à imaginação sem limites... de deixar tudo fora do sítio, virado do avesso... em carne viva e pasmos... como muito bem dizes... e questionar a ordem e a natureza das coisas...
    E a poesia... é um verdadeiro instrumento... ao serviço da natureza humana... veio-me à cabeça uma frase de Hemingway, que li há alguns dias... "Não há nada para escrever. Tudo o que você precisa fazer é sentar-se em frente da máquina de escrever e sangrar."
    Mais um belíssimo trabalho teu, quw adorei descobrir por aqui...
    Beijinhos
    Ana

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