terça-feira, 10 de outubro de 2017

[Asas]




A infusão a fazer as contas a vida, com o seu vapor 
a subir pelo frio do ar, como se quisesse alcançar a lua. 
A lua a brincar com as aflorações da neblina nocturna 
que vem da respiração de um capricho meteorológico. 
Neblina que também brinca com a ria. A ria que exala 
um hálito conciso a mar e a saudade, em partes iguais. 
… 
Nos dedos restam umas cicatrizes em rosado saliente 
e permanecem suspensos na necessária imobilidade, 
a suficiente para mapear o corpo do ar, calmamente. 
Os rebentos de afectos espreitam a sua oportunidade. 
O corpo assimila o visível e o invisível do espaço cénico, 
pelos vários sentidos, e cria imagens de intemporalidade;  
emite um calor envolvente, uma aura imperturbável, 
que limpa todo o volúvel do futuro e salda o negativo 
de todos os anos de existência matemática e métrica. 
... 
A infusão acomodou-se na chávena e arrefeceu; a lua 
existe, mas já não está visível; a neblina transmutou 
e é, agora, nevoeiro; a ria continua a ser ria e discreta; 
e o corpo, absoluta e totalmente, sorri, fora e dentro. 


 [sobrevoo]



3 comentários:

  1. Sinto que as asas são para promover todo este voo poético.
    Bjks
    :)

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  2. Maravilhoso este voo interior, que este teu poema percorreu... produzindo um sorriso... ou a materialização de um poema...
    Beijinho
    Ana

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