quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Voo limpo




Lembro-me de ter visto nuvens assim, 
como este caminho de quinta-feira, 
onde me disperso, meio dentro, 
meio fora, da vida que vai chovendo. 
Trago, por baixo da pele, polissílabos tradicionais; 
a margem do esforço; monstros que tremem; 
a esperança das águas-furtadas que ficam 
no céu peito aberto; o frémito das folhas 
de almas outonais que procuram o vento; 
um tempo pouco, veloz, de janelas de luar… 
Voo, oitava a baixo, nas ondas gama, 
mãos a sair do papel algibeira de afectos, 
lábios expostos em lugar geométrico, 
onde sou o louco de sempre. Sempre.


 [sobrevoo]



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