segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Degradê





Passeio-me, por dentro. Esqueço a dureza da terra, a sofreguidão 
esclarecida dos ventos e a presença irresoluta. Bom dia, futuro! 
Vinte e nove graus de poesia no céu liso e prometido. 
Nele se passeiam turistas, que pescam qualquer coisa em mim 
e desencadeiam reflexos, talvez, imaginários; talvez, sem sentido. 
E perguntam-me, com respostas – como pode brilhar, que luz tem, 
o que não existe? E eu respondo, com perguntas – como pode não 
ser, como pode não ter?… 

… 

Adia-se a escrita, a ria enxuga nos labirintos do olhar, tão pensamentos. 
Acredito que possa ser compreensiva, a luxúria do silêncio. Não preciso 
de escrever, ou de permanecer nas coxas, ou nas vulvas, das palavras,
para existir na ejaculação do tempo: tão fugaz; tão fora do horizonte; 
tão blasfema aos ouvidos pudicos e nus de deuses orgânicos: os únicos. 


 [sobrevoo]



3 comentários:

  1. Forte... e... lindo! Para ler e reler.
    Direi mais, mais tarde. :)
    Bjks

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    Respostas
    1. ...a sensação de viagem, de acompanhar a tua e de participar numa outra, paralela, a minha. Lindo!
      Bjks

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  2. Viajando, por dentro das tuas palavras... aos lugares, a que só tu, nos sabes levar...
    Como diz a Laura, acima... para ler, reler... apreciar... e levar comigo as tuas palavras... a passear pelos meus lugares, um dia destes... lá no meu estaminé... vou já avisando... :-))
    Beijinho
    Ana

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