Esta é a consciência de que todos somos personagens
de uma vaga da história, em dias mais ou menos fáceis.
Este é o lugar que mais os aproxima dos livros, de que
não necessitam (os personagens que transmutam as suas
fisionomias, numa luta ininterrupta pela sua
sobrevivência
ébria, e que, na realidade, contém todas as elementares
instruções); que mais aproxima a nossa mútua e precária
existência e é uma espécie de taberna. Do outro lado de
uma
rua muito estreita, ainda resiste uma casa onde residem
livros
resilientes e que não estão presos a ninguém (como eles),
apenas a uma instabilidade (como a nossa, a de todos
nós),
como que uma biblioteca. Mas creio que, reflectidamente,
a proximidade não se fica por aqui e é aqui que, por
vezes,
venho tomar um café expresso, incomparavelmente amargo.
Como se, também eu, esperasse encontrar um fundo de razão
num fundo de chávena com borras; onde sou eu o personagem
estranho, miserável e cheio de resíduos, por quem os
deuses penam
às janelas, e que leva uma bofetada da vida, sem sequer a
ver
passar, vida que só aos personagens de outros fundos
pertence.
Aqui, ninguém quer ajuda e a ajuda fica, obedientemente,
à porta.
Este é o sorriso de quem sabe que é igual e que pode
levar consigo
muita da miséria, que é a nossa alegria de ter coisas que
não deixam
voar. E depois voo, tão rápido quanto a minha imaginação o
permite.
[sobrevoo]
[04 de setembro de 2017]
constatações...ou apenas um estado de alma
ResponderEliminar;)
A deambular, talvez, à procura de sentido, de algum estremecimento, de um banho de realidade, uma fuga... Tudo o que a imaginação permita.
ResponderEliminarBjks
Podemos não encontrar um fundo de razão... num fundo de chávena... mas que nos devolve a energia para continuarmos a ser os personagens da nossa própria história... com voos mais ou menos imaginativos... é um facto!
ResponderEliminarE é ao balcão que constatamos que a amargura do café... é nada... perante as amarguras da vida... e um escape... de alguns minutos... das ditas cujas...
Gostei de te encontrar ao balcão, por aqui... :-D
Beijinhos
Ana