À procura de sapiência
Calei-me.
Incorporei, com ligeireza, a arte de bem engolir sapos.
Vou escrever como
quem escreve o que quer, sem preocupação:
Tudo é belo, tudo
é desengraçado, depende da suposição.
Mas para quem é
pobre ou quase nada tem, como eu, servem os trapos.
Mesmo remendado,
em rodilhas, coçado ou passado, não urdo,
Não arquitecto um
astuto embuste, não importa se aturdo.
A cabeça, o meu
único e importante bem, embora em farrapos,
Lateja com a
miragem de uma altaneira e quimérica alucinação:
Ser o que sou, sem
perder o ser natural do que é genuíno e em paixão.
Como se fosse
possível sê-lo sem ficar trucidado e em fiapos.
Porque não
inventar ironias sarcásticas e a despropósito do absurdo,
Se, na falta da
resolução do paradoxo, fico calado e o outro fica surdo.
Procuro. O
silêncio não é propriamente um descuidado alheamento.
Falta-me a
sapiência para descortinar as verdades encapotadas
E o sossego
apazigua-me os receios de incriminações veladas,
Repetidas e
transmitidas com certeza, encobertas por sentimento,
Tantas vezes que,
para os outros, soam a autênticas e exactas.
A mim ferem,
abatem a minha alegria e as intenções pacatas.
O aperto. A
angústia de andar perdido e de perdido perder a razão.
Vagueio sem vagar
para olhar os rostos dos que por mim passam
E também não
questiono, nem me inquietam, as causas que abraçam.
Hoje estou eu
desapontado, incrédulo e com os demónios que me dão.
Sei que vai
passar, compreendo o despojo e a sensação de vazio.
Vai doer durante
mais algum tempo mas, aprendi a fazer o desvio.
05 de Março de 2007
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