Sou vagamente eu, espelhado nessa fotografia.
Fotografia simples, onde simplesmente era eu,
Há uns anos nesta data que não previa.
Simples, é um início de frio de ausência,
Num rasgo de horizonte incandescente;
O crepúsculo a revolver-se num galho de luz,
Misturado com um sorriso indecente;
Uma cegonha afadigada no arrozal da memória
Em tons de voo e com a profundidade da glória.
Simples, é o Universo e um universo de palavras árduas;
A saudade, que também entra aqui, e os seus rostos
Na minha cara de setembro capital e primário,
Tão compreensível como os infortúnios e os gostos.
À noite, a escuridão expande-se e a casa encolhe,
Como peças de um enigma dentro de um espanto,
À procura de uma ideia, num último sacrifício.
Simples. Tão simples como seres tu tanto,
Seres infinitamente e não estares aqui,
Anos depois, nesta data que não previ.
De há uns anos nesta, ou de qualquer outra, data,
Em dias que se sucedem naturalmente sem igual,
Acontece, simplesmente: a noite vem sem regresso
E cada momento é poderoso e original.
Irremediavelmente, enquanto encolhe, a casa geme
E o mundo já não aguenta a dor que tanto teme.
Já não estou ali e o não lamento.
Despi-me das rimas que me iriam salvar.
Estou aqui, onde não estarei;
Onde o mundo aparente pode ser o mundo autêntico
E a realidade pode ser a sua alternativa.
Sou precisamente eu, quem já não sou,
Registado nessa fotografia, onde,
Alegre, sou um reflexo desse contentamento,
Sem o hábito de lá voltar.
[plano e descoberto]
[13 de setembro de 2024]