Mostrar mensagens com a etiqueta mar. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta mar. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

De uma perspectiva





Eu sinto-te tão perto
Que quase te toco, por certo,
Tão lentamente.
E deixa-me dizer, sem pressa,
Ou outras urgências de gente,
Como quem se confessa,
Que te amo e admiro
E, lamechas, lanço um suspiro
Por cada vez que te sinto na brisa,
Por cada vez que o meu corpo te adita
Na marulhada concisa
Onde, até, a saudade acredita.
E aí eu sinto-te tão perto,
De novo e tão vivamente,
Nas danças deste mar desperto
E tão seriamente
Eu sou um mar tão raso,
Neste puro acaso.


    
[Sugestão de "consumo", para o poema: Ler a cantar.]





terça-feira, 23 de abril de 2013

nessa visão




contigo escassamente antes
de ti nada agora
observo que tu nunca mais
e a poesia moribunda em mim
arroja-se à calçada
pejada de frases estropiadas
palavras e letras extenuadas
que me apelam guarida
e soluçam esgotados sentidos
desprovidos sentimentos
incautas emoções
descuidados afectos
enquanto recebo a todos
de ninguém

jaz o significado
de ostentar a aura de revoltas
o contrário que furta a vontade

eis que brota a energia do feito
força de antecedentes fadados
resiliência imune às partidas
nessa visão cúmplice
de mar onde ondas são reciprocidade
a essência é a maré
e égides são as verdades
não por não ser perfeito

comigo antes
de mim hoje
eu continuamente
e o verso vivo



terça-feira, 2 de abril de 2013

O sujeito do sinal




Enquanto, silenciosamente, as recordações se multiplicam,
Indiferentes aos brilhos que a chuva confere à cidade,
Assumam-se as sombras difusas de cumplicidade
De uma miríade de pequenas criaturas, que suplicam
E oscilam, entre a luz e a obscuridade.

Recebo o relento, aguardo que o céu caia,
Entendo frases com cansaço e realidade
E estendo frases com braços de saudade;
Adivinho a maré que beija a praia
E desfruto da rede imperturbável da afinidade.

Ouço o mar, com um mar dentro, que outro mar contém,
Onde se exortam sonhos que ocupam vagas,
Resistentes à rebentação sobre a linha de fragas,
E que despertam essências que advém,
Despojadas de conveniências, ardis e adagas.

No contínuo retorno da água, descubro o alento,
O balanço e o som que me embala.
É o mar, incluso, que me fala,
No seu linguajar intenso e lento.
A laguna, infusa, considera e cala.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Observar com contexto de lugar



Observar com contexto de lugar
ou
Estar fora

     Preparo-me lenta e calmamente para a sorte, com destino e sem destino. Estou cansado, em comparação com os fatigados.

     Lavei as mãos, que escreveram as últimas palavras na areia, no mesmo mar que lavou a areia e que apagou, da areia, as últimas palavras escritas pelas mãos lavadas. Isto aconteceu há uns dias e não lavei as mãos, precisamente, fiz com que a água salgada retirasse a areia que se fixara nas mãos, mãos que ficaram com o seu gosto e odor, o gosto e o odor do mar. Não ficou o seu som e, por bem, não se fixou qualquer cor. Não transporto o mar nas minhas mãos, embora o tenham, mas possuem um mundo, vago, com vários mares e marés.

     O mar fala-me sempre que me vê, não me diz o que quero ouvir, diz-me o que quer e o que lhe convém. Sem própria boca, ele não tem os seus próprios olhos, mas tem olhos próprios e boca própria. Ele tem ondas, quase sempre, e eu faço algumas, de vez em quando. Sei que somos amigos e por vezes, por vezes, zangamo-nos, mas devolveu-me sempre, assim como devolve algum lixo. É estranho lavar-me num amigo, que, de alguma forma, me suja e lava quando me molha e me lava sem me molhar.
  
     Prevarico, tomo banho todos os dias, pelo menos uma vez, quase sempre de manhã, não no mar e a areia não sai.

     Estou sentado, não há mar, não há areia. Não é tarde. Chegou a hora de entrar decididamente no destino que não existe e que se produz, depois de abrirem a porta.

     Abrem a porta.

     Os olhos adaptar-se-ão ao novo ambiente, à nova luz. Hei-de me erguer definitivamente, e os olhos comigo, em silêncio e com um esforço de esboço de sorriso ligeiro, para desabar desassombradamente no mar.

     O que importa?
  

sábado, 28 de julho de 2012

Manhã


O mar desenrugado
Meu oceano
Sem mais desculpa
Senhor e redutor
No tempo em que a onda flirta

Neste intemporal lugar
Ponto entre o ser e o devir
Fio entre o chegar e o partir
Limbo de encontro e desencontro
Que dentro do areal se instalou
Numa ebulição permanente

Numa mão a areia
Noutra a água

No corpo a neblina
E os primeiros raios de Sol

Na cabeça pára o artigo definido
A contracção da preposição
O pronome demonstrativo
E o reparo fundeado
Nos pés

Afago poderá se uma bofetada

Que importa o que pensam
Se nunca te admitiram e conheceram
Se nunca te perceberam e aceitaram
Se sempre discordaram e julgaram

O horizonte
A imensidão
O oceano
O Sol
A neblina
Um nada
Em anuência
Que nunca se soltou
Não produz qualquer som
Apenas ouve
E marulha-se
O mar
A manhã

Escorre a água
Cai a areia
Toca o relógio
No altifalante da torre
E a manhã


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Na areia


Na areia escrevo,
Onde beija o mar,
De amor os versos.
Do amor eu vejo relevo
E do ar a respirar,
Por afectos submersos,
Numa esperança vaga
Que se alcança mal ao olhar
E se perde e afaga.

Na areia escrevo,
Onde ninguém poderá interpretar;
Onde havia areia e ainda há, debaixo do mar.


terça-feira, 27 de março de 2012

A existência


     Céu-aberto. Os anjos partiram e deixaram à solta, por princípios, o que resta do ano, em votos esquecidos. A casa dos fungos arqueou, soltou um gemido e deixou passar o ar descomprometido, amigo da diversidade e da adversidade de igual modo que da felicidade.

     Olho para a semelhança da sombra; para o mundo que roda, pede, honra e venera os embustes matizados; para um tempo preenchido que rasgo, outro que venço, outro que difundo.

     O mar aproxima-se e a existência apela para tanta coisa…
  

sábado, 17 de março de 2012

E hoje… (XXX)



     … Uma diligência salutar em vias curvas e assimétricas, com conciliações e harmonias. Orientado para fados amigáveis, disposições simples, diálogos claros, pessoas descomplicadas. Avançaram: sorrisos, inatos, distintos e oferecidos; o momento.
  
     Não vi o mar, sinto-lhe o odor.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Temperar ausências


A gaivota empertigou-se
E decidida aproximou-se
Questionou a minha presença
E porque me demorava
Na sua praia, sem pedir licença.
Disse-lhe que estava
A temperar ausências.
Fez-me reverências
Permaneceu muda e estática
Durante um período inumerável
E quando partiu, prática
Por fim, fê-lo de forma agradável
E a contento.
Cantou ao vento
Com palavras de urgência
Amores desconhecidos
Promessas de sobrevivência
E propósitos de sentidos.

domingo, 29 de janeiro de 2012

E hoje… (XXIV)



     …Anúncios de um cortejo, tardio, de reis, este ano, magros.

     Nova volta! A comitiva dos anjos-do-mar.

     Conforme a dedução e os primitivos indícios, a confirmação final dos personagens com vários rostos e vários papéis, onde se encontram, também, figuras isoladas, de um só semblante e sem saber como foram arrolados e associados à trupe.

     Perda! A cilada dos saneamentos sem grelha ou tampa, na via pública. Assim como a astúcia das sentenças mansas e astutas.

     Surpresas! A minha vida é uma surpresa constante. O dócil sonho e um contributo da marulhada. Quem ama cuida o objecto do seu amor, não o afugenta.

     A crença! Eu quero; bem-quero; desejo; creio; prezo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Só para dizer [XVIII]:


     As cabras, camaritas, subsultam espontâneas, num afã de excitação imprevidente, mas pleno de contentamento e agrado. E as gaivotas famintas.

     As gaivotas que também são agiotas. Ei-las ávidas e generosas; sôfregas e misericordiosas; alimenta-se e deixam viver.

     O Mar apaga o meu rasto, tanto quanto pode e alcança. Tantas vezes jurou levar-me, tantas quantas as vezes em que me devolveu.

     Transparente. O regresso à beira-mar, ao meu raso de areia sem rasa, à minha concha vaga; sem fé em vaga ou maré.

     Talvez a afinidade necessite de afinação ou afirmação.

Soltas à solta


     Notas soltas… Pontas soltas… O conhecimento de um dia sem arbítrio, sem termo, na ciência da memoração; num lapso que se repete, repisa e rediz. A concepção do tempo e da sua duração frustrasse, dissipasse, extinguisse, em mim, e regressam, uma e outra vez, as distâncias, os intervalos, os hiatos, ligados por velhas, e já assinaladas, pontes elásticas sobre linhas de água sem paralelo.

     Quero a serra e o mar. Talvez devesse viver numa ilha, mas como pode uma ilha viver em outra ilha?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cinzento


Sem dúvida, sem peso, sem surpresa,
Sou, ó mar, tua presa,
Nesta praia, sob o Sol morno.
Sinto-me desprovido de qualquer destreza;
Despojado da raiva e da frustração,
Sem perder de vista o farol, adorno,
Para mim e para a minha condição.

Toco nesta água, salgada e inquieta;
Nesta areia submissa e concreta;
Neste ar envolvente, carregado de mar, a dividir;
Neste fogo que arde em mim e me afecta,
A uma vontade de serenar e partir,
E permaneço com uma convicção completa,
Preso por uma pequena pena de subtrair.

Não sei ao certo quantas aves contém uma pena;
Nem sei dizer se as aves outras penas têm
E, nesta hora que me resta, pena é o que menos me convém.

Não vou mudar o Mundo, nem, tão pouco, contorna-lo.
Não espelho o que sou, apenas o que pareço
E figuro, seguro, mais do que um adereço.

Barra (Ílhavo), 29 de Outubro de 2009.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Folhelho


Alegadamente, nada é da cor que será;
Nada tem o comprimento que teve.
Sou feliz na tristeza menos carregada.
O amanhã num outro presente se verá
E o presente pode ser outra dádiva armadilhada.

Dispenso a dúvida com que sou condecorado,
Penso no lucro de mais um pequeno dia.
Agarro o brilho ilusório de um sentido,
Sem direcção, e rumo para o lado, para onde estou virado,
De pé, vagamente orientado e perdido.

Descubro que a Ilha, e o insular, sou eu.
Sou o Mar, o gasoso, a Natureza e nada,
Levemente pesado e pesadamente leve,
Pronto para livremente partir e ficar;
Com a consciência pesada, de quem nada deve.

O que resta já está estragado e serve,
Num Universo que se destrói e constrói;
Numa revolta pacífica da explosão mansa.
É o gelo que me esquece, que me insulta e ferve,
Na proximidade que me toca mas nunca alcança.

De postura incorrecta, correctamente,
Alongo o fugaz abreviado e breve,
Num rosário de contas sem futuro,
Vindo de um longínquo passado presente,
Em perfume de consistência, de brilho obscuro.

Um sorriso facial, artificial, desenhado.
Engolir em seco e olhar sem olhos.
Bonita? Não avalio a grandeza da ira,
Nem a ira da grandeza do abandonado,
Encontrada pela carência sem mira.

Duplicam-se e dividem-se os sentidos,
Num retorno, sem volta, completo.
O que importa está do lado de cá,
O lado dos pacientes e dos destemidos,
Com impaciências e medos, agarrados ao que há e não há.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Retrato

     Consigo ouvir-te ao longe num tom sério, sem ser grave, e sereno, misturado no marulhar de um mar que se agiganta. Procuro ver-te ao vivo, sentada, matizada pelo Sol, dobrada sobre o ventre, a segurar as pernas, como se receasses poder partir sem vontade. Um livro aberto, pousado ao teu lado, com um carinho que só eu consigo ver, sobre uma carteira colorida para o proteger da areia, folheado brandamente pelo vento. O vento, transformado em brisa, que transporta o teu odor, combinado com o perfume e a maresia. Brisa que me toca, que me afaga e que me arrefece sem me abrandar.

     Deleite de sentidos.

     Sinto que me torno denso, enquanto percorro os meus dilemas de pensamento lateral. Penso de novo. Repito-me. Diluir também não me parece uma solução arrazoada; iludir resultará num adiamento do encontro com a verdade.

     Fui, por fim, tomado, primeiro pela penumbra, depois pela obscuridade, naturais, entrecortadas pelo potente foco luminoso do gigante das riscas horizontais, farol que serve de guia para uns e que me denuncia, a espaços.

     Universo, actuar e tempo. Sobra-me espaço, falta-me espaço e dou espaço.


sábado, 26 de novembro de 2011

Crepúsculo maior


Encontro a luz que me ensombra,
Procuro a razão que não quero encontrar.
Quero a Terra firme e o oscilante Mar;
Quero o calor do Sol e a frescura da sombra.
Vou contemplar o que quero ver, sereno;
Olhar e ver, apenas, o que a vista alcança;
Dançar a dança que não queres dançar em pleno.

Hoje vamos soltar a vontade,
Vamos errar sem destino, sem origem.
Deixa-te possuir pela revigorante vertigem
De ter e de perder a solene veleidade.
Perde os sentidos num recato que se descerra,
Em abraços dos meus braços, sem esquecer,
Que, depois da subida, teremos que descer a serra.

Encontro o boiar sobrevivente do que eu sou,
Lado a lado com o submergir da caricatura que não quero.
Soltei amarras, a terra e o mar. Sincero, coopero.
Quase tudo numa só cor, nada mudou,
Num bailado, que não é meu, perpétuo e constante;
Quase lembrado numa só memória, é bom,
Sem fobia, abrandar e mergulhar no ensejo reconfortante.

Hoje vamos viver o hoje no tempo certo,
Numa medida que se impõe exacta,
Numa ordem natural que se acata.
Numa corrente de alegria, quero-te perto
E esquecer as horas da noite sem anoitecer.
Anima a paz deste coração em guerra.
Quero-te, mulher, que posso querer.