sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Dia-a-Dia


O jantar correu bem. Riram e brincaram sem discussão.
Beberam e conversaram como já não se recordavam de o fazer.
Não conteve a sua alegria e nem pensou que fosse ilusão.
Trocaram carícias e mimos deleitosos e de enternecer.
Olharam-se nos olhos longamente, sem fuga e sem temor,
E o tempo passou por eles, sereno, gentil e sem torpor.

A cozinha ficou por arrumar. Decidiram ir para o quarto.

Esperou. Preparou o seu corpo e a cama para a receber.
Rogou e desejou por uma noite de amor demorado e farto,
Ansiava pelo reencontro dos dois corpos sem temer.
Ela chegou. Esgueirou-se para a cama sem falha,
Esticou-se e pousou nos lençóis como numa mortalha.

Tentou afagá-la, um abraço. Tocar-lhe, já sem fantasia e almejo.

Ela disse mais nada querer. Virou costas e dormiu.
Ele sentiu-se afeminado, por sentir a frustração do desejo,
Por ter sonhado, por amar e sentir tudo o que sentiu.
Foi para a mansarda ver as estrelas naquela noite fria
E sentir o aroma de esperança de um novo rumo no novo dia.

Será de homem sair de casa e procurar outros braços?

Não. Ele não julgou ser coisa de mulher aguardar e sofrer,
Na esperança de um amanhã repleto de beijos sem embaraços.
Agarrou-se às memórias do último jantar sem adormecer.
Há quanto tempo aguardava por momentos assim de felicidade?
Quanto tempo vai ter que aguardar por outra oportunidade?

Cansado, recebeu a nova aurora como um paliativo para a amargura,

Para as incertezas e questões agigantadas como castelos altaneiros.
O trabalho irá mantê-lo longe, ocupado de forma segura,
Sem os fantasmas da solidão. Não tem amigos, nem conselheiros.
Na verdade, sabe que se fechou e sente que não tem ninguém.
Na verdade, não sabe se tem amor, se ainda o sente por alguém.



  
  
  

Dia-a-dia


O jantar correu bem. Riram e brincaram sem discussão.
Beberam e conversaram como já não se recordavam de o fazer.
Não conteve a sua alegria e nem pensou que fosse ilusão.
Trocaram carícias e mimos deleitosos e de enternecer.
Olharam-se nos olhos longamente, sem fuga e sem temor,
E o tempo passou por eles, sereno, gentil e sem torpor.

A cozinha ficou por arrumar. Decidiram ir para o quarto.

Esperou. Preparou o seu corpo e a cama para a receber.
Rogou e desejou por uma noite de amor demorado e farto,
Ansiava pelo reencontro dos dois corpos sem temer.
Ela chegou. Esgueirou-se para a cama sem falha,
Esticou-se e pousou nos lençóis como numa mortalha.

Tentou afagá-la, um abraço. Tocar-lhe, já sem fantasia e almejo.

Ela disse mais nada querer. Virou costas e dormiu.
Ele sentiu-se afeminado, por sentir a frustração do desejo,
Por ter sonhado, por amar e sentir tudo o que sentiu.
Foi para a mansarda ver as estrelas naquela noite fria
E sentir o aroma de esperança de um novo rumo no novo dia.

Será de homem sair de casa e procurar outros braços?

Não. Ele não julgou ser coisa de mulher aguardar e sofrer,
Na esperança de um amanhã repleto de beijos sem embaraços.
Agarrou-se às memórias do último jantar sem adormecer.
Há quanto tempo aguardava por momentos assim de felicidade?
Quanto tempo vai ter que aguardar por outra oportunidade?

Cansado, recebeu a nova aurora como um paliativo para a amargura,

Para as incertezas e questões agigantadas como castelos altaneiros.
O trabalho irá mantê-lo longe, ocupado de forma segura,
Sem os fantasmas da solidão. Não tem amigos, nem conselheiros.
Na verdade, sabe que se fechou e sente que não tem ninguém.
Na verdade, não sabe se tem amor, se ainda o sente por alguém.


[...fiquei cansado]
   



quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Frase do dia

  
  
  
 "We've heard that a million monkeys at a million keyboards could produce the complete works of Shakespeare; now, thanks to the Internet, we know that is not true."

- Robert Wilensky, speech at a 1996 conference

   
 
 

Do antigo e eterno amor, o maior e o menor


De entre os bons presentes, o amor é, talvez, o maior.
É possível que a nossa vida gire em torno do amor e não vemos.
O amor não é posse… É tudo que temos e não temos.
O amor à vida, para com os outros… O gratuito e que damos de cor.
  
E o avassalador sentimento de querer alguém em pormenor?
Esse amor edificador que põem em causa tudo aquilo em que cremos,
Aquele que nos une e nos separa, que alimenta mesmo quando não comemos.
Esse que desponta em silêncio e naturalmente, talvez, o amor mor.
  
Não falo da ilusão, do deslumbramento ou da paixão.
Falo do querer comprometido e descomprometido ao mesmo tempo,
Que damos, livremente, em juízo e sem esclarecida razão.
  
Onde pairas vontade? Aquela que atribuímos ao coração.
O que te comanda e controla? O que te dá alento?
Quero sentir-te de novo, sem temor e com sofreguidão.
  
   
  

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Pai



Bom dia pai! Faz muito tempo que não te escrevia.
Foi difícil viver os dias seguintes à tua morte.
Mais difícil foi ver a mãe confrontada com a sua sorte,
O companheiro muito amado e a sua vida que para sempre partia…

Continuas a ser o meu único e verdadeiro ídolo. Nunca te disse.
Quase catorze anos depois, aqui estou em frente ao computador,
Desta vez para te escrever e te confessar o meu amor.
Já era homem, mas ainda apreciava os carinhos da meninice.

Tantos anos depois e ainda sinto a tua falta. A vida ficou diferente.
Deixei de escrever. Perdi, até, as centenas de folhas manuscritas,
Os guardanapos, os pedacinhos de papel, com venturas e desditas.
Não entendo porquê, mas acho que por uns tempos deixei de ser gente.


Bem sei que a vida continua. Continuou e há-de continuar, por fim.
Meu querido e bom pai, saudades sim, eu sinto.
O tempo apaziguou a dor da perda e não minto,
Sossegou a revolta, até para com o divino que cultivava em mim.

A vida é composta por uma sucessão de acidentes. O teu último, aquele,
Deixou também nos avós, teus pais que já partiram também,
O acre de sobreviver a um filho, mas que esperaram encontrar além.
E nessa certeza padeceram serenos e faleceram à espera dele.


Até sempre. Voltarei a escrever com certeza.
Fez-me bem este momento, este gesto espontâneo,
Que sem necessidade reprimia, humilde e em pobreza.