Acto ou efeito
Onde estão os que me amimavam com palavras,
Os que me chamavam, convictos e com insistência?
Qual foi o meu pecado ou a minha inconveniência?
Serei o efeito ou o acto da poesia das minhas lavras?
Com o grito, interrompi as minhas afadigadas buscas.
Em silêncio, com o sentimento de um vazio,
Não parei no cruzamento das palavras bruscas.
Eu, ordeiro e sem sentido, desapareci,
Aborrecido com a minha insistência e teimosia.
Terei perdido a decência, mas sem hipocrisia.
Era tarde para estar só e tarde para estar ali.
Vagueei pela inconsistência da credulidade.
Falo baixo para as paredes que me aprisionam,
Que me conduzem para fora da cidade.
Afastei-me renegando o meu próprio peso,
Carregado com pesos que não eram os meus.
Suportei o incómodo da chuva e o estorvo do adeus,
Fugi do teu pavor, da tua repulsa, expulso e indefeso.
Não encontrei a ansiada guarida e o leito,
O repouso que me conduzisse à reconversão,
Apenas o teu olhar assustado e de despeito.
Olho à minha volta, demoradamente,
Sem encontrar afectos ou afeiçoados.
Não entendi os horrores e os desagrados,
A irritação, a ira e a cobiça descontente.
Apareço e não sou recebido com agrado,
Trago o incómodo, o despropósito e o excesso.
Acrescento inutilidade e um queixume apoquentado.
Não contento, nem preencho o lugar sem confusão,
Em desencontro com a dimensão de tempo e espaço.
Não te demores com a insignificância do meu traço,
Quando eu sou, tão só e apenas, a tua solidão.