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sexta-feira, 24 de maio de 2013

as marés


ria/laguna de Aveiro

de uma memória a sobra
que contradita a causa e a obra
na neblina de uma porta fechada
que aguarda do sono a chegada

provém genuinamente da luz da Lua
estes desejos de rua
provêem sentimentos em forma de energia
num ensejo de satisfação em alegoria
provem a formação fulgente de apego
que arrebata o corpo do sossego

protestam os estímulos dos sentidos
pelos frios dos frios desconhecidos
oriundos das ondas de intuitos
dos mares de paradigmas fortuitos



terça-feira, 23 de abril de 2013

nessa visão




contigo escassamente antes
de ti nada agora
observo que tu nunca mais
e a poesia moribunda em mim
arroja-se à calçada
pejada de frases estropiadas
palavras e letras extenuadas
que me apelam guarida
e soluçam esgotados sentidos
desprovidos sentimentos
incautas emoções
descuidados afectos
enquanto recebo a todos
de ninguém

jaz o significado
de ostentar a aura de revoltas
o contrário que furta a vontade

eis que brota a energia do feito
força de antecedentes fadados
resiliência imune às partidas
nessa visão cúmplice
de mar onde ondas são reciprocidade
a essência é a maré
e égides são as verdades
não por não ser perfeito

comigo antes
de mim hoje
eu continuamente
e o verso vivo



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Canto


Na soleira da frágua,
Num ritmo eventual,
Muito além da memória instrumental,
Embrenho-me no oblíquo fio de água,
Que apesar de indiferente,
Corre flexível e complacente.

De imediato veio o rocio
Munido de confortos,
Embora frio,
No Cais dos Botirões.
De igual para igual,
A ria, que pretende beijar a esteva,
Confunde-se e une-se com uma diagonal
No limiar de várias ilusões,
Lesta, com inteireza,
Onde eu, só, sou mais alguém e um,
Na língua escassa da estreiteza.

Recebo a boa noite traçada
E acerto a fase da Lua;
Descalço a rua
E dispo a minha morada,
À luz e no timbre mental,
Com um sorriso acidental.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O vento levou a minhas rimas


O desejo diz-me só
Em sombras de luar
Pó de estrelas
E vontade pintada
Consentimento distraído
De aura urgente
De lugar sem passagem
Na orla de um rio a transbordar

O vento levou as minhas rimas
Mostro as minhas mãos à lua
Depois do temporal
E diz-me que lhes sobra a chuva
E que me agarre ao norte
Das minhas mãos sem fase
No tempo que me anuncia
Uma oportunidade de paz

Aproximo o rosto do fim de dia
Ao rosto da noite dentro
No encanto do fulgor pungente
Do meu corpo inquieto
E numa força inteira e substantiva
Da energia dos afectos
Arde o desapontamento apontado
Produz delicados padrões de luz

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Singular


A imagem descansa
Reservada e preservada
Fora do alcance
Num suporte imaginário

De tão perto
Consigo ouvir a fadiga
De um temporal
Que me reserva o frio
Entre nós de sacramento
Indiferente
E o serve como fronteira
Hospedada na rua

Aparento dormir
Para que descanse
A vontade de andar e a tirada
Num torpor de inércia

De tão longe
De dedos estendidos
Cruzam-se linhas e trilhos
Na palma da mão desocupada
De um braço esticado
Consigo sentir o teu toque tão real e próximo
A tua respiração tão chegada e exacta
E o calor do teu abraço tão apertado


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ilustração associada


     Por vezes, as gaivotas adoptam um porte de silêncio e de quase imobilidade, que adaptam aos meus sentidos e à sua natural curiosidade, perante a minha natural intrusão, para manifestar e significar termos de doutrinas ancestrais, tácitas, que expõem e descarnam sem enunciar. Aparentam alimentar intimidade e cumplicidade comigo, numa relação de cautelas, avanços e recuos, e uma total inutilidade perante a força dos elementos, violentados e compelidos por intensivas práticas humanas e caprichos próprios e antigos.

     Da noite anterior ficou o travo da sofisticação e requinte da sociedade engalanada. De toilette a traje, de gala dotada de alarde; de eau de toilette a água de toucador, essências para municiar…

     Clap! Clap! Clap!

     Aplausos! Anuências, risos, sorrisos e trejeitos de circunstância. Uma nova aranha, nova, tece a sua teia sobre um rosto, por caridade. Rosto improvisado e inexacto; teia a transportar como um véu; caridade descartável. A face da teia da compaixão. Urdir.

     O crepitar da lenha de pinho na lareira mistura-se com o estralejar dos sentidos que reúnem, agrupam e caracterizam, uma vez mais, as sensações já várias vezes analisadas, impregnadas de vida, instruções e orientações, por vezes, imprecisas. Agradeço o calor que me cinge e retempera.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Folhelho


Alegadamente, nada é da cor que será;
Nada tem o comprimento que teve.
Sou feliz na tristeza menos carregada.
O amanhã num outro presente se verá
E o presente pode ser outra dádiva armadilhada.

Dispenso a dúvida com que sou condecorado,
Penso no lucro de mais um pequeno dia.
Agarro o brilho ilusório de um sentido,
Sem direcção, e rumo para o lado, para onde estou virado,
De pé, vagamente orientado e perdido.

Descubro que a Ilha, e o insular, sou eu.
Sou o Mar, o gasoso, a Natureza e nada,
Levemente pesado e pesadamente leve,
Pronto para livremente partir e ficar;
Com a consciência pesada, de quem nada deve.

O que resta já está estragado e serve,
Num Universo que se destrói e constrói;
Numa revolta pacífica da explosão mansa.
É o gelo que me esquece, que me insulta e ferve,
Na proximidade que me toca mas nunca alcança.

De postura incorrecta, correctamente,
Alongo o fugaz abreviado e breve,
Num rosário de contas sem futuro,
Vindo de um longínquo passado presente,
Em perfume de consistência, de brilho obscuro.

Um sorriso facial, artificial, desenhado.
Engolir em seco e olhar sem olhos.
Bonita? Não avalio a grandeza da ira,
Nem a ira da grandeza do abandonado,
Encontrada pela carência sem mira.

Duplicam-se e dividem-se os sentidos,
Num retorno, sem volta, completo.
O que importa está do lado de cá,
O lado dos pacientes e dos destemidos,
Com impaciências e medos, agarrados ao que há e não há.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Retrato

     Consigo ouvir-te ao longe num tom sério, sem ser grave, e sereno, misturado no marulhar de um mar que se agiganta. Procuro ver-te ao vivo, sentada, matizada pelo Sol, dobrada sobre o ventre, a segurar as pernas, como se receasses poder partir sem vontade. Um livro aberto, pousado ao teu lado, com um carinho que só eu consigo ver, sobre uma carteira colorida para o proteger da areia, folheado brandamente pelo vento. O vento, transformado em brisa, que transporta o teu odor, combinado com o perfume e a maresia. Brisa que me toca, que me afaga e que me arrefece sem me abrandar.

     Deleite de sentidos.

     Sinto que me torno denso, enquanto percorro os meus dilemas de pensamento lateral. Penso de novo. Repito-me. Diluir também não me parece uma solução arrazoada; iludir resultará num adiamento do encontro com a verdade.

     Fui, por fim, tomado, primeiro pela penumbra, depois pela obscuridade, naturais, entrecortadas pelo potente foco luminoso do gigante das riscas horizontais, farol que serve de guia para uns e que me denuncia, a espaços.

     Universo, actuar e tempo. Sobra-me espaço, falta-me espaço e dou espaço.


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Dito de outro modo…


Dito de outro modo…


Dito de outro modo, e porque não,
O meio ambiente influencia-me.
O ambiente impele e sentencia-me
As vontades, o ânimo, a disposição.
Nos opostos e nos concordantes,
Nada será igual ao que era antes.


O vento, que me serena a indignação,
E a lânguida e imperiosa bonança,
Que me hostiliza a temperança
E desorganiza a compreensão,
Num frio que de longe me aquece,
Por um calor que de perto me esquece.


Partindo desta invernia que é o meu Estio,
Rogo por uma Primavera sem Outono.
Quero um amar e um mar sem posse, nem dono.
Um querer verde viçoso e maduro esguio,
Sem malvadez, figurado, sem figuração,
Manifesto aurorar, no ocaso da emoção.


Em boa verdade, da maresia e em marejada,
Retenho o odor e os balanços afectuosos,
Os amparos e resguardos de abraços oficiosos,
De beija-flor de fidelidade dissimulada. 
Sebes de cedros que cederam à acalmia
E um pinheiro manso que enraizou na ventania.


Dito isto e dito de outro modo e outra vez,
A flor da laranjeira ficou em branco pérola,
O anjo, resplandecente, perdeu a auréola.
Mas, o espinheiro deu viço e melhorou a tez.
Do jardim, que agora é um bravio valado,
Não colho flores, colho amoras descansado.



quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O meu mundo é pequeno


O meu mundo é pequeno
  
Porque querem ver-me acossado e acusado,
Se nos pensamentos sigo nu e desprendido?
Se o meu nó é de correr e sou perseguido,
Porque me tratam como a um alheado e atado?
Para quê ler e entender à letra e de forma mordaz,
Se não é assim que o digo, escrevo e sinto?
Sigo, desprendido, sei que estou ávido por paz.

Sei que o meu mundo é pequeno, enfezado,
Em comparação com o mundo desconhecido,
Em comparação com o mundo vivido
Entre fomes, guerras, enfado e o ser desprezado.
Quero ouvir a sinceridade e a justiça sagaz,
Sem comprometimentos com a falsa cortesia,
Sem alianças com a inveja e o ciúme, que desfaz.

Jurisprudência. Vejo a imprudência com desagrado.
Olho à volta e confirmo que estou só, perdido,
No desejo, na procura, na vontade, no ouvido.
Mas isso não me deixa mal-humorado, zangado.
Curiosamente, ganho uma força ignorada e audaz
Que me leva ingénua, arrebatada e decididamente,
Por outro caminho e absorto por um espírito sagaz.




quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Outro dia mau


Se estou rodeado por pessoas, porque me sinto só?
Olho em volta e vejo o movimento, o vai e o vem
De gentes indiferentes. Outros olham-me também.
Outros trabalham, são meus companheiros e sem dó,
Virados para dentro e para o que mostram por fora,
Sem temores pelos que pisam e deixam para trás.
Imagens de consumição, de gente que me apavora.

Escondo-me no meu canto como trabalhador indolente.
Hoje não sorrio, não quero nem espero pelo fim-de-semana,
Nem o aroma a perfume caro me alenta, nem me engana.
Hoje sou um bicho eriçado que foge de tudo o que é gente.
Sou aquele amorfo sentado que luta para não estar atrasado,
Sem mais vontades do que esquecer, esquecer e esquecer.
Esquecer mesmo muito, esquecer até ficar cansado.

Mas, que faço eu aqui perdido? Merecem-me este tormento,
Esses que de mim zombam pelas costas e covardemente?
Como sinto a falta de um amigo para falar abertamente.
Como sinto a falta da amizade, de um genuíno contentamento,
De um sábia palavra, dita sem habilidades e sem convenção.
Serão os momentos de adversidade que nos revelam os amigos
E eu não os encontro, nem com os olhos, nem com o coração.

A escrita apazigua-me, absorve-me, leva-me para longe.
Não me envaidece. É tão humilde e tão descomprometida.
Serve-me de confidente. Amansa e sujeita-me a alma perdida.
A leitura aclara-me a razão, esgota e renova o pobre monge,
Eremita, embrutecido pelos tombos e deambulo da existência
Que sinto tão longa e tão curta, mas tão cheia e tão despojada.
Há muito que já abalou e ainda aqui habita, a crédula inocência.

Pelintra sim, mas não quero pertencer a escória sem sentido,
Uma massa sem opinião, indiferente, onde tudo é igual e nulo.
Onde um é muito vivo, sabido e outro é muito aproveitado e ‘chulo’.
Quero ser um Ser até ao fim, mesmo sozinho, mesmo perdido.
Não procuro a glória, mas o contentamento e o deleite de existir.
Não renuncio, contudo, à aspiração de merecer o amor e a amizade,
Sem esquecer de onde venho, onde estou e para onde posso ir.

Vou olhar em volta, uma vez mais, para me desenganar e redimir.
Já me sinto outro, com mais coragem, com optimismo e refeito,
Pronto para respirar, até e ainda, este ar fétido e rarefeito.
Pronto para as venturas e desventuras de viver, de existir.
Quero acreditar que ainda há bondade, algures, não muito distante.
É essa a inocência de que falava, que me povoa e doma.
Este não passa de outro dia mau, mas é o agora, o mais importante.

12 de Janeiro de 2007

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Instantâneo diferido



     Momentos. Revejo alguns negativos, tiras antigas de filme fotográfico, revelados mas não divulgados. As suas manchas ganham vida no meu cérebro, e crescem lembranças, momentos, histórias. A profundidade de campo, por vezes diminuta, revela novos incidentes ou confirma a profundidade e a elevação das recordações.


     Os pequenos espelhos transformam alguns retalhos de vida. Nivelam a sua importância para uma zona mais neutra e diluem-se numa diferença de cor e na presença da imobilidade. Outras fracções de existência, vistas por este prisma, agigantam-se ou diminuem.


     Crescem e afrouxam sorrisos; desaparecem, ou despontam, embaraços, vergonhas. Memórias.


     No fundo, revejo alguns positivos.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Não renego a felicidade


Quando partes para esse teu mundo de fantasia
Esperas que eu fique aqui e aguarde tranquilo,
Esperas que eu trabalhe e faça isto e aquilo.
Despedes-te com um sorriso e uma qualquer ironia.

O teu olhar é cruel, gélido, e cega a minha alegria.

Refugio-me no silêncio e pensas ser tu a urdi-lo.
As horas passam e passam os dias e nós nesse silo,
Presos nessa violência invisível, na raiva da tua tirania.

Quando voltares dessa tua viagem alucinada

Esperas que eu esteja aqui de braços abertos,
Esperas que te abrace e não te diga nada.

Agrides-me e tens os meus carinhos por certos.

Eu estou cansado da vida escusa e amargurada,
Os meus sentidos doridos estão despertos.

Segunda-feira, 18 de Dezembro de 2006.