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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ido



Nunca te vi, assim, tão coerente,
Indignação, despeitada e pungente.
O apelo às coisas simples, como voos e penas,
As palavras que arrojam em arenas.

A gaivota pairava sobre mim, indigente.
Decerto, em fragmento contingente,
Nenhum mofo ridicularizava o passado,
Qualquer dia ou legítimo momento insistente.
Sobretudo, soberana e atarefada,
No abrigo do ânimo desperto,
Elucida num sintoma de resolução confiada,
Que contesta, de perto,
O modelo que ficava, unicamente, ensoado.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Deixa-me escrever nessa margem estreita


Deixa-me escrever nessa margem estreita
ou
Rotação

Gaivota,
Aceito a tua anedota.
Deixa-me escrever nessa margem estreita,
Numa determinação insuspeita,
Sem obscenidade ou jura,
Só por sanidade e dilecção pura.
Sobram-me as palavras que consentem,
Apesar das discordâncias;
Sobram-me as palavras que não mentem,
Apesar das deformações e instâncias.
Associemos as nossas ideias e penas,
Conciliemos circunstâncias de lenas.

Deixa-me escrever nessa margem estreita,
Como quem se estreita
Nesse pedaço de perspectiva,
Antes que lhe falte o espaço;
Antes que perca a iniciativa;
Antes que me vença o cansaço.
Vai subir a maré
E vamos ficar sem pé.
Estamos na margem do mar,
À margem de um algar;
Na margem do papel,
À margem de um corcel;
Na margem da estrada,
À margem de nada;
Na margem da lembrança,
À margem da segurança.

Deixa-me escrever nessa margem estreita,
Esqueçamos a interdição e o guarda que espreita.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Temperar ausências


A gaivota empertigou-se
E decidida aproximou-se
Questionou a minha presença
E porque me demorava
Na sua praia, sem pedir licença.
Disse-lhe que estava
A temperar ausências.
Fez-me reverências
Permaneceu muda e estática
Durante um período inumerável
E quando partiu, prática
Por fim, fê-lo de forma agradável
E a contento.
Cantou ao vento
Com palavras de urgência
Amores desconhecidos
Promessas de sobrevivência
E propósitos de sentidos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Só para dizer [XVIII]:


     As cabras, camaritas, subsultam espontâneas, num afã de excitação imprevidente, mas pleno de contentamento e agrado. E as gaivotas famintas.

     As gaivotas que também são agiotas. Ei-las ávidas e generosas; sôfregas e misericordiosas; alimenta-se e deixam viver.

     O Mar apaga o meu rasto, tanto quanto pode e alcança. Tantas vezes jurou levar-me, tantas quantas as vezes em que me devolveu.

     Transparente. O regresso à beira-mar, ao meu raso de areia sem rasa, à minha concha vaga; sem fé em vaga ou maré.

     Talvez a afinidade necessite de afinação ou afirmação.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ilustração associada


     Por vezes, as gaivotas adoptam um porte de silêncio e de quase imobilidade, que adaptam aos meus sentidos e à sua natural curiosidade, perante a minha natural intrusão, para manifestar e significar termos de doutrinas ancestrais, tácitas, que expõem e descarnam sem enunciar. Aparentam alimentar intimidade e cumplicidade comigo, numa relação de cautelas, avanços e recuos, e uma total inutilidade perante a força dos elementos, violentados e compelidos por intensivas práticas humanas e caprichos próprios e antigos.

     Da noite anterior ficou o travo da sofisticação e requinte da sociedade engalanada. De toilette a traje, de gala dotada de alarde; de eau de toilette a água de toucador, essências para municiar…

     Clap! Clap! Clap!

     Aplausos! Anuências, risos, sorrisos e trejeitos de circunstância. Uma nova aranha, nova, tece a sua teia sobre um rosto, por caridade. Rosto improvisado e inexacto; teia a transportar como um véu; caridade descartável. A face da teia da compaixão. Urdir.

     O crepitar da lenha de pinho na lareira mistura-se com o estralejar dos sentidos que reúnem, agrupam e caracterizam, uma vez mais, as sensações já várias vezes analisadas, impregnadas de vida, instruções e orientações, por vezes, imprecisas. Agradeço o calor que me cinge e retempera.