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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Finos reflexos audazes


Sagazes,
Sobre elas aludem,
Desejadas memórias com espera,
E não se iludem.
As imagens superlativas também vivem na parede,
Agarradas como uma era,
Agrupadas com uma mesma sede,
Vêem-nos sair, por vezes amiúde,
E não exigem explicação ou virtude,
Contíguas a um adeus sem serviço.
Partem, também, sem desculpa ou compromisso,
Como todo aquele que foi um passageiro e efémero.



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Acontece


Corre um vento seco de este;
Corre um boato sobre a minha quantidade;
Corre uma tristeza endógena de qualidade;
Corro contra o vento, o boato e a tristeza que infeste.
Corro, corro, corro preso a um mesmo lugar.

Corro, mas corro sereno.
Não me atropelo. Não é necessário temer,
Quando não pesa a mentira ou a verdade.
Ninguém se preocupa com o depois do pôr-do-sol,
Se, por um acaso, o ocaso escurece a alma
De um ensurdecedor silêncio de um vazio.

Corre uma loucura de esquecimento.
Não temam, pelo género, o género;
Não temam a liberdade e o livre arbítrio.
A vitória déspota é, apenas, um mando de ilusão.
Transforma a tua inanição numa vida;
A ocupação numa arte;
A vida e a arte numa referência verdadeira.

Corre um prazo vencido, num tempo desvalorizado;
Corre um triunfo omisso e falaz.
O cerne de um enfado superior, um misto de reveses,
Circula num rumor dissimulado.
Naquele sussurro escrito, emitido, fugaz.

Corre uma técnica eficaz para obter o esquecimento:
A evasiva frutuosa da retórica fantástica
No torpor integral de um paliativo demagogo.

Corre o submisso uso do costume.
Ó brando critério de análise,
A antífona ainda ecoa na ravina;
A ravina absorve a soma íntegra da inteireza;
A inteireza perde a recta justiça;
A justiça, que já era cega e vendada, é contrafeita;
Contrafeito vai, agora, o crédito.
Terá o eterno descanso das ondas do mar.

Corre um requisito desvanecido de conteúdo;
Corre o receio;
Corre uma adaptação de paz.
Estas são informações confidenciais:
Sou tão fácil de lavar.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Saudades de mim



Saudades de mim

Há quem coma,
porque nunca se sacia.

Eu não sou activo!
Eu não sou um herói!
Eu não sou atractivo!
Não sendo a lei,
sou quem nunca fui,
nem, de modo algum, serei.

Razões não tenho,
nem delas me quero encher.
Mostro sempre ao que venho
e o que posso perder.

O meu perder é igual ao teu,
em  feitio e forma,
e acontece-te como me ocorreu.
Como tu, sou um ser humano,
indivíduo sujeito ao engano.

Por mais que desesperes,
porque sempre mudas,
eu não sou quem tu queres,
nem nunca hei-de ser,
porque logo me estou a perder.

Perdido,
e mesmo assim,
estou esquecido,
errante deserto de jardim.

Eu não sou activo!
Eu não sou perfeito!
Mas, eu não sou passivo!
Não sendo lei,
fui para o esquecimento
e de lá não voltei.

Razões não posso dar,
se dizes que não as possuo.
Opinião sem arbitrar
é o pomo de discórdia que fruo.

O meu poder é igual ao teu!
Salobro, saloio, pequeno,
num préstimo que pouco deu.
Estranho e inútil atributo,
ele sim, irresoluto.

O pequeno mundo,
dos mal-entendidos,
daqueles que, num segundo,
me respeitam e transformam
e logo me subvertem e transtornam.

Com um pouco de nada
e outro de coisa nenhuma,
antífrase aprumada,
sou preenchido por uma lacuna.

Há quem não coma,
porque não tem mesmo o quê.

Estou cansado!
Estou dorido!
Estou saturado!
Quero deitar-me e dormir,
mas não um dormir de fingir.

Dormir e acordar sossegado,
sem sono,
sem vontade de ficar fatigado,
sem dono.

Quero ser eu,
apenas eu, em consciência,
aquele que se perdeu.
Quero repetir-me, longamente,
alongar-me imensamente.

Quero sorrir sem pagar por isso.
Quero ser eu,
cansado de ser omisso,
tenho saudades de mim.
Quero repetir-me sem fim!

Quero poder ser sincero,
e sê-lo discreto.
Gritar, falar e calar (espero),
sem recurso ou decreto.

Estou cansado!
Estou amargo!
Estou despojado!
Quero deitar-me e dormir,
mas não um dormir a fugir.

Dormir e acordar povo,
ser gente,
sem vontade de dormir de novo,
contente!

Quero ser eu,
não importa que seja breve;
não importa que seja ateu.
Deveria ser já,
a hora nem é boa, nem é má!

Quero, mais do que olhar,
ver como é,
e ser mimado como gosto de afagar.
Que importa se sou mansarda ou jasmim,
quero repetir-me sem fim!

Vontade,
quero dormir justo,
num verso junto à cidade,
no campo, a todo o custo.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Condutividade



     Sem discordar da orientação e do sentido do reflexo que observo no mostruário, que partilho, não consigo deixar, contudo, de confrontar, possivelmente, o incomparável, e recordo a imagem devolvida pelo espelho de água. Penso no arremedo de respostas e de gentileza, representações que se consubstanciam num delito e num delírio de concepção.

     Ocasionalmente, consigo identificar e constatar a repartição benevolente e franca e distingui-la da distribuição de ambições, rancores e ciúmes; consigo assimilar e reconhecer que não conheço ninguém.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

[Em pouco tempo, ou não…] II – Reflexos


     Reflexos


A partir de um espelho, no Abismo, há muito tempo.

     Imagina que, ontem ou anteontem, cheguei a escrever, como comentário, que estava do lado errado do espelho. Claro que apaguei a afirmação. Eu já não tenho a certeza de qual é o lado certo e correcto, mas parece que estou sempre enganado. Embora, muitas vezes, o lado errado seja o lado exemplar, perfeito e o lado do bem, eu penso que estou sempre do lado mau. Fiquei, apenas, pelo desencontro, não fui além disso. Só isso ficou escrito.

     Acredita que, já há muito tempo, comecei a fraquejar. Já fui além do ceder e da irritação, já perdi a razão. Por vezes convenço-me que tudo, mesmo tudo, é subjectivo e tento aceitar esse todo e tudo dessa forma, dentro da subjectividade. Reservo-me e fico quieto a ouvir o vento, ou, quando posso, as ondas. Contudo, muitas vezes não o penso assim. É difícil, para mim, assistir ao chorrilho de mentiras e dissimulações sem que a revolta me tolde a serenidade e me paralise a bondade. Os enganos e os desenganos cercam-me e encarnam naqueles que me rodeiam e que já deixei de conhecer, porém, reconheço-os.


     Vejo que a omissão parece ser libertadora, a salvação ou absolvição e, até, justificação para qualquer falta de escrúpulo. Vejo, e testemunho, o reflexo da supressão de uma passagem, ilegal para a união, que quase me passava despercebida. Agradeço-te a frontalidade e por me mostrares alguns detalhes, só assim consigo ver e saber.


     Estou cansado deste jogo aéreo e deste jogo rasteiro, pouco esclarecidos e trapalhões, com regras em constante mutação e desiguais entre iguais. Tenho piedade, dó, dos inocentes, aqueles que sofrem e sofrerão e os que virão a sofrer com o resultado destes atropelos. Lamento e lamentarei, se as forças me faltarem por completo e crescerem outras no seu lugar, mas será uma alegria para a sanidade e para a serenidade.


     O ano passado foi difícil, mas este ano é, normalmente, pior.


     Levo a peito o despeito. Abro o meu peito e o respeito. Sabes como me irritam a arrogância e a altivez dos que, sabendo-se errados e descobertos, continuam cheios de razão, impunes e de peito feito.


     Até breve, espelho!