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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Neste lugar sem data


Demoro-me secretamente no que não existe
Nada há a perder ou a ganhar
O amor deixa de o ser e agora é
Nas palavras que podem sonhar
E silêncios feitos de essências discretas
Como fortalezas de bruma
Direitos que decretam direitos
Que consentem devaneios
Em artigos de liberdade
Como mensageiros de polissemia

Primeiro pensei era um pesadelo
Crente num sentimento sem alma
Bonito e corajoso por fora
Decrépito e senil por dentro
Mas depois esmaguei-me na realidade
De uma afirmação inconfidente
Que deixa uma sílaba
E vejo os seixos nos meus olhos
A darem-me um caminho
Que nem próximo me vê

Agora é mais fácil saber onde começar
Todos os erros me fizeram crescer
Eu sou apenas um homem que sempre foi
Com um punhado de palavras
De um natural ambíguo
Que se libertaram da pontuação
Num gesto animal de fadiga
E ficarão assim para a eternidade
Vocábulos de múltiplas identidades
Sensações e sentimentos imperfeitos
Em pontos que estimulam o lapso
Com gemidos de bem-estar e prazer

Eu espero veladamente sem ti
Estou em abraços com poemas
Um saber e calar pausadamente
Capturado num sonho que é real
E é uma visão e conceito e som e gosto e tacto
É uma permanente metáfora
É um universo em recriação
É um disparate de sentidos
Mas não é posse
Vive e convive na minha alma
Dá-me esperança
Descansa e por cá fica


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Essência


Eu tenho paciência

Os rios sobrevivem às lágrimas ocupadas
Por falsas e pintadas bruxas de insegurança
Que se sustentam numa ténue esperança
E em torturas de despedidas fabricadas

Ensina-me a amar

Ornam-se borboletas azuis errantes
Sacrificadas por palavras mascaradas
Que convocam e seguem as emboscadas
De políticos corruptos e de falsos protestantes

Ensina-me a ser amado

Esperam com os salgueiros nos combros
Porque as demagogias insuspeitas
Abateram as democracias imperfeitas
Em teses organizadas por escombros

Eu acredito e aconchego

Segundam informadores diminutos
Em jargões modelados e acabados
Os eleitos em leitos de quartos ensopados
Contrastam com os leitos de rios enxutos

Mas não luto contra a natureza


domingo, 15 de janeiro de 2012

Quota-parte


     Mais do que uma maré de troça, permanece como uma constância e uma substância de contestação que vem e vai, de igual modo que os sargaços ao sabor das ondas. Mas não passa de uma repulsa empertigada. O flamingo-dourado é da mesma opinião.

     Horas, uma poção e uma porção de oportunidades. O moliço agudiza a objecção, embora embrenhado na tarefa de subsistir sob a contaminação que exorta em recusa. A água deixou de ser cristalina, continua a ser salina.

     Vontade! Desconsidero os símbolos de gerúndio gentio, os prefixos e os símbolos de ligeireza e mutabilidade procedentes da chegada da trachea atriplicis*, carregada de memórias do Vouga. Porque vem a assombração da borboleta, uma e outra vez, escarnecer sobre o confluir na Ria e o desembocar no mar? Talvez o mofar seja próprio da sua natureza, que não julgo, não detesto e não ridicularizo, mas não adoro, não reverencio e não amo.

     Agarro-me ao hífen sem grandes pormenores, enquanto os advérbios descansam, absortos do lugar, do tempo, do modo, da intensidade, da dúvida, da afirmação, da negação, em palhas e abraçados aos adjectivos.

     O néctar das flores permanece como caução de subsistência primitiva. Gosto das flores e é por gostar delas que não as colho!




*N.A.: Borboleta nocturna da família das noctuidae. 

domingo, 8 de janeiro de 2012

(Al)Faia


Foi pacificador sentir a abnegação à dimensão,
O adocicar e o abrandar do desvario de alma insegura,
No vórtice contínuo desse sentimento de faial.
Assenta como um dom, uma força poderosa;
Unifica-se em silêncios e termos,
Onde por vezes não e necessário verbalizar.

Sonhos!
Perguntam-me quem não os têm
E pergunto-o eu também.
Por vezes não são necessárias mais do que simples palavras,
[Amo-te] Quando espontâneas e experimentadas.
Não são necessários outros pesos, outras medidas,
Nem histórias extravagantes, ou docemente macabras.
É um simples sonho que simplesmente não o é
E que sendo-o tão simples como o é verdadeiramente,
Poderia não o ser e simplesmente continuar a sê-lo.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Serra


Num presságio de tempo, os cúmulos distintos, tingidos
Pelo resquício luminoso de cor púrpura, irradiado
Por um Sol já ausente, exageram o espectro derrotado
E arremeto para de novo retroceder sobre a colina dos vencidos.

Augura, num murmúrio, um conjunto de rochas de sentidos,
Que não me recorda, e espalha alguma glória no vento irado,
Frio, que me instiga, e acaricia as pedras parideiras do lado.
Insurrectas e zombeteiras, espalham amores de mouros perdidos.

Numa medida esquecida, a apoteose dos relevos naturais,
Embora profanados pelas reentrâncias inscritas,
Designam e chamam trilhos de outras naturezas e de outras desditas.

Apontam-me, na partida, listelos de exilados dos natais
Que no seio do céu escuro tentam encontrar instruções teatrais.
Adivinha-se o rocio. A cascata sussurra que já não quer mais visitas.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Etéreo


O plano, o período e o clima não eram os melhores, com certeza.
Acredito que, desde o pináculo, seja difícil vislumbrar o detalhe,
Vincado e preciso, do pesar e da aflição de um olmo desamparado,
Sem projectar sombra e em atmosferas arredias da inteireza;
Sem cobertura, sangrado por um profundo e amplo entalhe;
Agarrado a uma peculiar circunstância de ter raízes e estar deslocado.
Não foge, enquanto os salgueiros, amigos, com celeuma, o vergastam,
Aparentando dar palmadinhas nas costas e que muito se agastam
Com o seu involuntário abrolhar extemporâneo e desfasado.

Desfolho a complexidade digital, crítica, crónica e criativa,
Escrita e descrita nas folhas caídas dos azevinhos de várias eras.
Folhas molhadas que pululam no chão de terra, que as anseia.
A vertente não tem cilada e o pequeno vale espelha a prática incisiva,
Essa sim, natural, sem juras artísticas, de verdes esperas;
De prodígio, de sobrevivências incólumes, que não se maneia;
De atoleiro de verbos, boçais, abandonados e depositados por enxurradas
Há muito tempo esquecidas, há muito tempo choradas;
De alinhavos de sátira que, encoberta e renunciada, se refreia.

Os fluidos do ribeiro deixaram de ser acromáticos, inolentes,
Para abarcar os tons e odores ditados pela tua indústria exuberante:
Frases que serpenteiam, sob aplausos e ovação, sobre os seixos angulares.
Na região dos elos fraternos eternos, dos sempre presentes,
Os laços de alforria estão enfermos e de utilidade inoperante.
Os atlantes, debaixo das cornijas, são uma baganha seca de olhares.
A desusada deusa azenha exibe, apenas, uma amostra de quatro muros
De adobes de saibro, subjugados, erodidos e pouco seguros.
Emparedados pelo capim bravio, espontâneo, semelhante a esgares.

Em abono da minha convicção, nunca deixei de ser poeta verdadeiro.
Choro quando choro, sem carpir; sem a modéstia de imitação, pintada ou caiada.
Sem dúvida, todos os vocábulos contêm disfarces de diferentes espessuras,
De diferentes opções e credos. Não creio que não tenhas reparado, por inteiro,
Na falta de freio das rimas estreitas, das escorreitas, das indigentes; na chegada.
Os ensaios de duvidosas diplomacias, vindos em nodosas e dengosas lisuras,
Cobram os dízimos vencidos, baseados em pressupostos de proprietário
Zelador e guarda-mor da etiqueta moderna, também, ele, um operário,
Construtor de altares, de pedestais; de torres, de ameias. De alturas.

O que, normal ou ocasionalmente, pensam as austrálias ou os eucaliptos, eu não sei,
Nem sei o que realmente querem dizer as trepadeiras aos álamos esquecidos.
Contemplo a beleza da natureza, mesmo quando não entendo a sua cruel brutalidade,
Sem esquecer que, eu, também, sou um elemento natural, simples e com lei.
Não respondo à fonte inquinada, que nada me diz, nem me dirige os seus pedidos.
Trago comigo, contra todos os pareceres e anacronismos, a inata antiguidade
De estar grato com a vida, ainda que amargo, copioso ou longe da grei.

31 de Dezembro de 2009.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O amor da natureza


O amor da natureza

Em verdade, posso já não acreditar no, ou num grande, amor!
Pela falta da verdade, pelo individualismo cego e sagrado
Que me mostram, ostensivamente, em quase tudo e por todo o lado.
Falta-lhes a paciência, a conquista e resta a pressa e o fervor!


Ficam os olhos, vagos e indecisos, com a sensação de ardor.
Faz sentido a nova agitação, o bulício longo e abnegado,
Na procura de um bem que é tranquilo, doce e amado:
A natureza, quase pura, cheia de cores, gosto e odor.


Faz sentido andar sozinho nesta mata, mas não estou só.
Não é uma fuga, aqui encontro a paz, sem pressão ou urgência.
Está toda uma imensidão de seres e sentidos, não tenham dó.


Este Buçaco é de uma beleza que me confere uma nova decência.
O espaço, onde se pode fugir das pessoas e encontra-las sem nó,
Apenas com o deslumbramento, o pasmo alegre e a feliz consciência.

19 de Março de 2007

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Descodificar



Sinto que te identifico, por vezes, por traços
Que apresentas ou aparentas, tu
Que tomas tantas formas e verbos. Tabu
De numerosos tons de desembaraços.
Em esgares de alinhavos, depressa te desconheço,
Nos termos e frases sem demarcação e de arremesso.

Procuro dobras nos vincos de abraços,
Expectativa de recuperar o teu perfil a nu,
Interesse por entre os novelos de um baú
De reminiscências, direcções e espaços.
Emolduradas em acessórios de apreço,
Perco o acesso ao caminho espesso.

Aveiro, 31 de Outubro de 2011


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Breviário [XII]


     Ao entrar, vi que a aranha tinha urdido e fixado a teia de um segundo sentido ardiloso. Entendi a aranha, a teia e reservei o parecer para não entrar em qualquer disputa, presente ou futura.
     
     Mágoa? Só o choque do momento, pois conheço os caprichos da natureza.
     

terça-feira, 18 de março de 2008

Fórmula



     Não encontro a forma, nem a fórmula. Recolho-me e encolho-me. É inútil forçar a natureza, esta mola, mole e teimosa.

     Hoje colho todos os ventos, os que, de facto, semeei e aqueles que dizem ter semeado. Permito-me ser flexível. Não pretendo acrescentar ódio e ira a quem vem. Por vezes sabe bem ser de outra têmpera, ainda que destemperada.