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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

E hoje… (XLVIII)

   
     … Apenas a sombra da senhora, encostada à parede. Uma sombra com sonhos, como em qualquer outra sombra, mas uma sombra vazia. Uma lembrança...

     Dizem que partiu, a senhora da sombra, que tinha todos os sonhos feridos, doentes. Recordas-te? Partiu, dizem, numa última bofetada duma cobardia que se perpetua.
   
     De resto, a vida continua, na companhia dos lugares-comuns, dos lugares comuns, dos lugares incomuns, dos odores, dos sons, dos verbos, dos adjectivos… Dos sonhos... Das palavras, das pessoas e dos silêncios; em paz, eu, mas sem descanso.

     As pessoas...
     
     O mar soltou um murmúrio, por entre suspiros.
     
     E sim, gosto de flores, de animais, em geral. Futilizo, eu sei, mas, hoje, não sei, ao certo, para onde vou...
     
     Creio que resta uma moral: Não deixes que se repita!
     
     
     

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

E hoje… (XLVII)

     ... a senhora estava encostada à parede, com todos os sonhos feridos, doentes; com algumas nódoas negras marcadas no rosto e na alma. Mas não queria ajuda. Queria chorar e sentir a chuva, como se esta, chuva, a acariciasse. Foi assim que eu, em estado plasmático, a encontrei, já em estado líquido.
  
     Eu não fumo e não posso dar um cigarro, que não tenho. Eu tinha, e tenho, apenas, como que um ombro de compreensão, um suporte sociável, e não procurava, nem procuro, nada. Apenas posso emprestar esse ombro e tentar encaminhar algumas criaturas para um rumo onde possam, um dia, encontrar o Sol, num caminho que queiram trilhar. Não faço, nem transporto, milagres. Pinto e retoco ideias, emoções, afectos, sonhos e palavras. Sou um estado tão simples, de matéria, tão insuficiente e fluido...


   

sábado, 8 de junho de 2013

[Em pouco tempo, ou não…] X – Formas

     
     «Insónia, 8 de Junho intemporal.
     
     
     Eu não sei de que forma existo. Não durmo.
     
     Estou a ver-te a sair, depois da despedida. Sei que é uma miragem, mas vais andando, afastando-te cada vez mais, num túnel sem forma definida, mas com a promessa de retorno, impregnada na neblina dos teus passos. Sais mais arrastada do que o próprio gerúndio. Tolero, agora, o gerúndio, talvez, porque o associo, ainda, aos gestos lânguidos de uma carícia arrastada.
     
     Sinto um aperto no peito e a certeza do nosso amor. Esse sentimento vai detendo uma lágrima, que teima em sair. Mas, logo se lhe juntam outras e acabam por escorrer pela face, com a mesma urgência de um suspiro, num misto de dor e alegria.
     
     Preciso de ti. Por momentos, preciso de ti como do ar para respirar. Mais, até, do que do ar. Sinto que sufoco. Dirão que é uma meninice, talvez, mas não deixo de o sentir. E o que é uma meninice, comparada com a gravidade desta minha premência, mais urgente do que a queda das lágrimas? Quanto pesa a meninice num espantalho? Mas logo sorrio. O amor que sinto vai vencendo o princípio de tristeza. Devagar, com retrocessos, mas progredindo, também eu num túnel, mas num túnel sem tempo definido e que se vai indefinindo. Aborrece-me o gerúndio, agora, e dói-me o gerúndio, também.
     
     Felizmente é noite velha, não há assistência neste palco.
     
     Mordo os lábios à vez. O de cima e o de baixo. Por vezes, cerro os dentes, na tentativa de ajudar a instalar a resignação.
   
     Abraço-me. Sorrio, por fim, de novo. Não é o fim. Dou lugar à força dos afectos, libertos dos fantasmas e embebidos na minha essência.
     
     Preciso de ti, de facto. Procurar-nos-emos por todo o universo; de dimensão em dimensão; numa qualquer forma; de qualquer forma. Daremos voltas ao mundo, até nos encontrámos, para sermos um, não sei de que forma. E, reconhecendo-nos, sem conhecermos a nossas formas, constataremos que, afinal estávamos tão próximos, aqui mesmo, na esquina da vida.»
     
     
     

quarta-feira, 20 de março de 2013

E hoje… (XLVI)


  
     …Déjà-vu e apanágios. O dia termina diáfano e em parte incerta  Perco-me, ainda não me identifiquei com a realidade que se renova a cada dia; com as perdas que não são substituídas. As pessoas vêem-nos maioritariamente de fora e cada um de nós vê-se predominantemente de dentro, para dentro.

     Tento saber quem sou ou o que serei, para os outros e para mim. Procuro encontrar explicações e razões para esta forma. Questiono-me sobre a impressão, a interpretação do que representa a minha voz, a minha figura, os meus gestos, os meus pensamentos, os meus escritos e aparência, todos os meus reflexos, estáticos ou em movimento. Examino a minha consciência, o meu conhecimento e discernimento.

     O dia termina diáfano e em parte incerta. Inserta.


terça-feira, 19 de março de 2013

Só para dizer [XXXII]:

  
     Ainda resta alguma coisa, quando isolamos o pouco que já não fruímos do nada e é isso que resta: nada!


terça-feira, 12 de março de 2013

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Só para dizer [XXXI]:

     
     Sinceridade não é dizer, fazer ou escrever tudo o que nos vem à cabeça, isso também pode ser falta de autocontrolo.
     

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Só para dizer [XXX]:


     Espero que nunca confundamos o pouco que temos com o «nada», e que saibamos conquistar o «nada» que nos falta daquilo que queremos.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Só para dizer [XXIX]:


     Acredito que qualquer pensamento, ou frase, que possamos produzir, ainda que simples, pequeno, puro, objectivo e concreto, tende a ser ambíguo e/ou questionável para os outros.

     Eu amo-te!


E hoje… (XLV)


     … A vida continua. Abandono o meu corpo, dormente, e viajo por caminhos indicados por pontos de luz e estrelas, movido por uma vontade que vence as trevas desenvolvidas e que ludibriam o chão, de onde me ergo.
     
     A decisão final é nossa, até que o último reflexo de sanidade mental se apague, até ao último eco de discernimento, até que se desvaneça o arbítrio. Nem tudo é legitimado pelo contexto.
     

sábado, 3 de novembro de 2012

Breviário [XXXI]


Por vezes somos um hiato do silêncio ou o próprio som; por vezes somos um projecto de qualquer coisa; por vezes «somos», ainda que o contraditem.


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

E hoje… (XLIV)


     … A cefaleia mói suavemente, roça, em dor branda. Creio saber que não há forma de recuperar um dia, mas há forma de redesenhar o próximo procedimento, reprogramar a rotina e evitar a falésia adjacente ao registo esquecido numa base de dados analógica.

     Um engodo de vida que se esquece e passa ao largo. Contratempo.

     Por outro lado, sei que as estrelas e a lua estão nos seus lugares, apesar de não as conseguir ver, ocultas pelas nuvens, que, também, não se vêem, ocultas, por sua vez, pela escuridão. E é com esta certeza, de que existem coisas que, mesmo quando não as vemos, sabemos que estão, lá ou cá, que fico sereno.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

[Em pouco tempo, ou não…] IX – Crónica de um espantalho


     Crónica de um espantalho

     «É algo que faço instintivamente, observar a minha desconstrução e ficar parado. Na realidade, na presença de seres humanos, não é suposto que um espantalho faça alguma coisa, para além de ficar imóvel. Um espantalho deve, acima de tudo, espantar os pássaros e ser agradável, o mais possível, para os que lhe são seus superiores e criadores, sem fazer mais nada. Basta seguir as normas de procedimento escritas por vários espantalhos de tempos ancestrais e que constam em cânones antiquíssimos, de insuspeita veracidade, para viver feliz. E pode sê-lo, com toda a simplicidade e facilidade, se assim proceder.

     Aos seres humanos, os criadores, cabe o papel de decidir que vida terá um espantalho, não nas suas minudências, mas em traços gerais. Um criador que destrói espantalhos que vivem ou choram deveria: sentir-se um espantalho, sentir o peso das suas palhas e perceber com quantas palhas se constroem os sonhos; promover a atitude de braços abertos, o proveito da vida e o direito a essa mesma vida; garantir o direito à liberdade e à igualdade. 

     Os espantalhos possuem corpos frágeis e, nalguns casos, almas sensíveis. Nós, os espantalhos, não somos todos iguais e há criadores que são tão espantalhos como nós.

     Por vezes enamoramo-nos por seres humanos, assim como os seres humanos também se podem enamorar por espantalhos e, nessas circunstâncias, num verdadeiro amor, não existem seres superiores ou seres inferiores. Mas, se há histórias de amor sofridas, mesmo entre espantalhos, da mesma forma que entre os seres humanos, as histórias de amor entre seres humanos e espantalhos são sempre histórias de amor impossível.

     É normal que um espantalho permaneça só, mesmo só, durante a vida, por opção ou acaso. Da mesma forma que pode ficar temporariamente só, ou pontualmente só, ou escolher estar só. E o que pode fazer um espantalho quando está sozinho? Eu faço muitas coisas e muitas, coisas, vos poderia acrescentar para explicar o “estar”, o “ser” e o “ter”.»


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Circunstancial


     Protegi e arrumei metáforas e alegorias. Senti frio, não só o frio físico mas, também, aquele que arremete sobre o âmago e o invade. Não me surpreende esse frio que vem de fora, surpreende-me a pronta renúncia e desistência de algum do calor que vem de dentro. Não sendo meus, o frio ou o calor, de forma sensata, consigo acautelar o frio com um simples casaco, que transporto a tiracolo, mas nada posso fazer pelo calor que vacila, foge e se transforma em frio, por mais que o afague e/ou feche esse abrigo composto por discernimento e matéria que o favorece. Há calor que só se extingue, como, também, há frio que insiste em congelar.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

E hoje… (XLIII)



     …O dia demorou-se, rigorosamente diferente; desmoronou-se, exactamente igual.
  
     Não me resguardo da chuva, para me diluir nas gotas que caem livres e independentes, sem me evitar. Espera-nos o chão. Hoje tive muito chão e muita estrada, que será a mesma de amanhã, sem ciclo.
  
     A ria está em silêncio. O som da sua respiração, em modos simples e compreensíveis, é abafado pelo som da chuva descomplicada. O governo da água, num Estado inundado.
  
     Pouso a lua, que encontra a terra. Talvez consigamos dormir.
   

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Só para dizer [XXVIII]:


     Existem dias de vazio, dias de semana, dias que são eternos e infernos. Há dias. Há dias e dias. E, entre tantos outros, existem dias em que um desprazer qualquer nos anexa numa tormenta poética de emoções e sentimentos que nos deixam desalentados. Mas existem dias em que um regresso, ou gosto, ou uma palavra, nos reúne a uma tempestade de vida e poesia, de emoções e sentimentos, que nos arrebatam e resgatam do desencanto.


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

E hoje… (XLII)


     ... Juntas e comissões. Um comité administrador de emoções, outro de sensações, um distinto para os afectos. Todos com várias pastas. Mais cargos e encargos.

     Fica, porém, uma súmula de silêncio sobre o regaço, como uma pena rara, bonita, de ave; como uma prenda antecipada. A nota periférica da ria, de uma paisagem com muita margem para explanar completamente a observação, a fantasia e um cumprimento, rematada por uma atmosfera húmida, a tornar-me invisível, parte da neblina metódica.

     Sereno, o sereno, embora frio, a convidar-me para um chá.


domingo, 7 de outubro de 2012

E hoje… (XLI)



     … Nada resta, se excluir os pensamentos, que, contudo, tudo são e de tudo contêm, por um tempo indeterminado. Não serão encontrados registos para além dos de um cérebro emaranhado, fascinado, cansado, povoado de sons, de imagens e de sensações de dias de descanso, onde incluo o dia de hoje. Descanso que não o é; descanso que foi uma inquietação diferente. Inquietação que contorna, deliberadamente, o desassossego e cogitações correlacionadas.

     Sei que não sou assim tão forte e gosto de chocolate.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Só para dizer [XXVII]:


     
     Revolta-me ver crianças sentadas ao colo dos passageiros, quando passageiro significa pessoa transportada num veículo, ainda que seja o colo dos avós, principalmente quando viajam no banco da frente, ainda que o veículo tenha só um ou dois lugares, e muito mais me revolta quando a cena decorre em tempo de chuva.

     Transporto essa revolta.