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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Considerações


Não há palavras que possam ser bálsamo sem ser lancinantes.
Não agora, neste momento de desolação confusa e desconfiada;
No rescaldo da fraude; na sequência de porfias desgastantes.
Opinião macerada.

Cerro os dentes, os olhos procuram o sargaço e o nada.
Ainda joeiro os ditos sobre a sobriedade da poesia que advogam,
Onde só cabem flores, lavores padronizados, amor;
Onde a contrariedade, ainda que em dor atroz, é ornamentada;
Onde há palavras banidas e fórmulas que se rogam;
Onde o verdadeiro carácter e a verdade não convêm ao fulgor.
Beleza infundada.

Tanto sofrimento só pode ser inato, natural,
Mas não o quero, aceito-o com contestação.
Há dias em que me sinto fantástico e genial,
Noutros suplico aprovação.

Vem do vazio, que transporto, e da solidão,
O meu pesado pesar, que não vez.
Vazio que não consigo afastar, mas tento.
Cresce por entre a falta de razão,
Num rótulo gasto, e sempre igual, de falta de intrepidez,
Que me concedes em honra, sem olhar, sem alento;
Por provocação.

Ah, como sou forte aos teus olhos,
Para que, assim, me negues os amigos
E lances aos entraves e aos escolhos.
Procuro abrigos.

Revivo ânsias fundamentadas e desassossegos antigos,
De bolsos vazios, sem créditos e sem valores afiançáveis.
Tão longe de um futuro promissor, já passado,
Relembro e transporto ilusões, fantasmas e perigos;
Recordo as promessas feitas e desfeitas, incontornáveis,
Afastado da rota e chamado por um apelo arrazoado,
Adenso o magote de mendigos.

Fechado num abundante e desigual excesso de autoridade,
Reduzido a presença e a parecença de um mero espantalho,
Resta-me o simples, mas valioso, laivo de sanidade
E o sabor do orvalho.

Fertilizas o avilte, arrojas o escárnio e o enxovalho.
Sabes que não há provas físicas para a dor da alma,
Que já quase não sente; que já não conheço.
Sigo o trilho, para não mandar tudo para o atalho,
Certo de que para o teu propósito não haverá palma.
Corro, sem socorro, e mais me afasto e desmereço.
Impedem-me o trabalho.

Como tudo é tão fácil visto de fora.
Bastar-me-ia o silêncio para a dignidade
Ou uma atitude reactiva e sem demora.
Celeridade.

Luz. Como me fere, e me faz falta, tanta claridade,
E os sorrisos e os risos que me despertam o choro de alegria.
Os poemas não têm preço e o poeta recebe uma esmola.
Abençoada esmola de consolo, de gozo, de infelicidade;
A compreensão e o afago, contidos numa áspera alegoria,
Que foge, salta, vai, vem, atinge, volta e rebola,
Na maior serenidade.

Também existo feliz, afortunado e em formato encantado,
Onde não me afadigam as vertentes e outras propostas;
Onde bons afectos, sentimentos e sentidos crescem lado a lado,
Espontâneos, sem classes impostas.

Vocês, não pensem que é tão simples virar as costas;
Magoar inocentes num gesto legítimo de libertação;
Viver cobardemente por não agir ou por tentar a prazo;
Encontrar sempre, para qualquer pergunta, duas respostas,
Infinitamente verdadeiras e excessivamente em contradição;
Coabitar com a existência e com o termo de um ocaso;
Conter realidades opostas.

Não conheço todos os caminhos que me precedem;
Ignoro a importância dos riscos apontados.
Sei que fujo das firmezas que apoiam e, igualmente, cedem.
Os modos estão magoados.