Não há palavras que possam
ser bálsamo sem ser lancinantes.
Não agora, neste momento de
desolação confusa e desconfiada;
No rescaldo da fraude; na sequência de porfias desgastantes.
No rescaldo da fraude; na sequência de porfias desgastantes.
Opinião macerada.
Cerro os dentes, os olhos
procuram o sargaço e o nada.
Ainda joeiro os ditos sobre a
sobriedade da poesia que advogam,
Onde só cabem flores, lavores
padronizados, amor;
Onde a contrariedade, ainda
que em dor atroz, é ornamentada;
Onde há palavras banidas e
fórmulas que se rogam;
Onde o verdadeiro carácter e
a verdade não convêm ao fulgor.
Beleza infundada.
Tanto sofrimento só pode ser
inato, natural,
Mas não o quero, aceito-o com
contestação.
Há dias em que me sinto
fantástico e genial,
Noutros suplico aprovação.
Vem do vazio, que transporto,
e da solidão,
O meu pesado pesar, que não
vez.
Vazio que não consigo
afastar, mas tento.
Cresce por entre a falta de
razão,
Num rótulo gasto, e sempre
igual, de falta de intrepidez,
Que me concedes em honra, sem
olhar, sem alento;
Por provocação.
Ah, como sou forte aos teus olhos,
Para que, assim, me negues os
amigos
E lances aos entraves e aos escolhos.
Procuro abrigos.
Revivo ânsias fundamentadas e
desassossegos antigos,
De bolsos vazios, sem
créditos e sem valores afiançáveis.
Tão longe de um futuro promissor,
já passado,
Relembro e transporto
ilusões, fantasmas e perigos;
Recordo as promessas feitas e
desfeitas, incontornáveis,
Afastado da rota e chamado
por um apelo arrazoado,
Adenso o magote de mendigos.
Fechado num abundante e
desigual excesso de autoridade,
Reduzido a presença e a
parecença de um mero espantalho,
Resta-me o simples, mas
valioso, laivo de sanidade
E o sabor do orvalho.
Fertilizas o avilte, arrojas
o escárnio e o enxovalho.
Sabes que não há provas
físicas para a dor da alma,
Que já quase não sente; que
já não conheço.
Sigo o trilho, para não
mandar tudo para o atalho,
Certo de que para o teu
propósito não haverá palma.
Corro, sem socorro, e mais me
afasto e desmereço.
Impedem-me o trabalho.
Como tudo é tão fácil visto
de fora.
Bastar-me-ia o silêncio para
a dignidade
Ou uma atitude reactiva e sem
demora.
Celeridade.
Luz. Como me fere, e me faz
falta, tanta claridade,
E os sorrisos e os risos que
me despertam o choro de alegria.
Os poemas não têm preço e o
poeta recebe uma esmola.
Abençoada esmola de consolo,
de gozo, de infelicidade;
A compreensão e o afago,
contidos numa áspera alegoria,
Que foge, salta, vai, vem,
atinge, volta e rebola,
Na maior serenidade.
Também existo feliz,
afortunado e em formato encantado,
Onde não me afadigam as
vertentes e outras propostas;
Onde bons afectos,
sentimentos e sentidos crescem lado a lado,
Espontâneos, sem classes impostas.
Vocês, não pensem que é tão
simples virar as costas;
Magoar inocentes num gesto
legítimo de libertação;
Viver cobardemente por não
agir ou por tentar a prazo;
Encontrar sempre, para
qualquer pergunta, duas respostas,
Infinitamente verdadeiras e
excessivamente em contradição;
Coabitar com a existência e
com o termo de um ocaso;
Conter realidades opostas.
Não conheço todos os caminhos
que me precedem;
Ignoro a importância dos riscos
apontados.
Sei que fujo das firmezas que apoiam e, igualmente, cedem.
Sei que fujo das firmezas que apoiam e, igualmente, cedem.
Os modos estão magoados.