sexta-feira, 2 de junho de 2023

Etcétera




Eu já encontrei o amor, algumas vezes. 
Por entre esta cortina inequívoca de pó de anos, 
Creio reconhecer, ainda, o som da sua construção; 
O som das suas labaredas altas ao final dos dias,
Dos quais já não existem as brasas, que ainda existem, 
Nem enganos, talvez um pouco mais do que imaginação. 
 
Eu pintei e pinto palavras impossíveis. 
Recordo-me de vidas nossas, com pensamentos meus, 
Cheios de andorinhas, papoilas e gargalhadas vossas/nossas, 
Onde a primavera se esqueceu de espreguiçar cegamente, 
Em pontas de pés de sol nascente e de amor sem fuso. 
Ou acredito que existimos, podemos existir, 
Um pouco mais ou menos assim. 
 
Poderão viver, em alguém que possa querer, 
Os pássaros e flores, que são um pouco meus; 
As frases e afetos, que um pouco me pertencem? 
Eu gastei, incrivelmente, milhares de versos 
Para continuar, aos meus pés, o interior em obras. 
A estrutura amalgama-se, entre sentimentos em manobras, 
E palavras já sem forma reconhecível e de significados dispersos. 
 
 
 [miscelânea] 
 [18 de abril de 2023] 

 


2 comentários:

  1. A vida traz-nos encontros e desencontros que se transformam em recordações e que tu retratas, aqui (nos amores vivenciados), num poema "à Henrique", um poema que mexe com o nosso interior, um poema belo.
    Bjks

    Espero que esteja tudo bem contigo.
    :)

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  2. E entre encontros e desencontros... que sorte a poesia ser aquela fonte de equilíbrio, que nos permite ter o interior permanentemente em obras, e que nos permite impermeabilizar face a sentimentos corrosivos, que o pó dos anos, tão entusiasticamente sempre se encarrega de nos oferecer...
    Como sempre, um poema ultra bem construído, que dispara emotividade e assertividade em todas as direcções!
    Beijinhos
    Ana

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