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segunda-feira, 19 de março de 2012

Não conto


Não conto os anos
O simbolismo dos dias
O passado que nunca se arruma
E que vestimos todas as épocas de forma igual
Em palavras que não conto
Que se redizem, renovam e aproximam
Sempre de forma diferente

Não conto as palavras que sempre te direi
Enquanto a memória e a sanidade o permitirem
E que não me canso de repetir uma e outra vez
Em viagens que sempre fazemos
Nos anos que não conto
Que ocorrem sempre

Não conto
Sempre


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Medida de tempo


Recordo-me que és, não me esqueço, também o sou,
E olho para um horizonte que não me pertence.
De lado, num lanço que a memória vence,
Importa-me menos para onde vou.
Descruzado, ao jeito de uma aparência,
Segue-me a sombra e a sombra da consciência.

O teu sorriso ainda brilha na negrura da lembrança.
Há serenidade na imagem que perdura e guardo;
Que placidamente emolduro e resguardo;
Que egoistamente quero só para minha bonança.
Já não sei se é dor ou se há dor nesta ternura,
Ou se insistir na memoração é apenas loucura.

Não alcanço os sons nem concebo o toque.
Há uma ponte que se quebrou, embora una;
Um hiato aperfeiçoado pelo tempo de lacuna,
Instituída na alusão, que viaja a reboque.
O resto diviso. Uma imagem viva
De uma presença compreensiva.

Permito-me alegrar na alegria que perde a gravidade;
Entoar silenciosamente a melopeia atenuada pela distância;
Arrebatar e apenas; embeber a antiga e a nova infância;
Celebrar em festa e sem o travo amargo da saudade.
Sem atrevimentos discorro no que por aqui me vai,
Em memória, com coragem, revisito o meu querido pai.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Um homem na chuva


Um homem na chuva

Sentado para lamentar só para si e só também.
Perdido, sem saber para onde se voltar, voltou.
Agora olha sem ver a distância de onde olhou,
Para o impenetrável e amado coração de alguém.

Alienado e inseguro, chamam-no e ele logo vem,
Pronto para dar, quando mais um se negou.
Nada pediu em troca e, sem querer, a tudo trocou.
Para onde vai sem rumo e o que lhe convém?

Não vai descalço, nem roto, nem sujo. Vai.
Está e anda sozinho no meio da chuva fria,
Tão constante, tão pesada e enérgica que cai.

Adeus diz para quem passa sem um "ai".
Na esperança tão sua, de voltar talvez um dia,
A erguer a cabeça e os olhos e ver o pai.

Esgueira, 29 de Agosto de 2001.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Pai



Bom dia pai! Faz muito tempo que não te escrevia.
Foi difícil viver os dias seguintes à tua morte.
Mais difícil foi ver a mãe confrontada com a sua sorte,
O companheiro muito amado e a sua vida que para sempre partia…

Continuas a ser o meu único e verdadeiro ídolo. Nunca te disse.
Quase catorze anos depois, aqui estou em frente ao computador,
Desta vez para te escrever e te confessar o meu amor.
Já era homem, mas ainda apreciava os carinhos da meninice.

Tantos anos depois e ainda sinto a tua falta. A vida ficou diferente.
Deixei de escrever. Perdi, até, as centenas de folhas manuscritas,
Os guardanapos, os pedacinhos de papel, com venturas e desditas.
Não entendo porquê, mas acho que por uns tempos deixei de ser gente.


Bem sei que a vida continua. Continuou e há-de continuar, por fim.
Meu querido e bom pai, saudades sim, eu sinto.
O tempo apaziguou a dor da perda e não minto,
Sossegou a revolta, até para com o divino que cultivava em mim.

A vida é composta por uma sucessão de acidentes. O teu último, aquele,
Deixou também nos avós, teus pais que já partiram também,
O acre de sobreviver a um filho, mas que esperaram encontrar além.
E nessa certeza padeceram serenos e faleceram à espera dele.


Até sempre. Voltarei a escrever com certeza.
Fez-me bem este momento, este gesto espontâneo,
Que sem necessidade reprimia, humilde e em pobreza.