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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Todo um dia


Todo um dia
ou
Um dia intacto
  


Conheces o ar de um dia inteiro,
Que circula livremente, como não somos;
Que, sem nos apagar, nos extingue
E agrega, naturais e difusos,
Em sinais e sentidos resolutos;
Que acompanha o brilho de um amanhã
Na luz opaca e ocupada da alvorada.
Esse ar entrou pelas minhas janelas abertas
E com ele, através delas,
Entrou como ar da manhã, que não se pode adiar;
Como ar da tarde, que me demora;
Como ar da noite, que me embala um desejo.
Mas não o vejo.
O Universo adia-nos, continuamente,
Nas suas próprias janelas,
No seio do seu vácuo, onde sou.
E sorrio, conheces o meu sorriso;
Conheces o ar de um dia inteiro…
  
  
  

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Vindo do quase




Quase sempre, quase quase.
Não me digas que o quase fica fora de mim,
Ou que me foco e vivo no quase,
Quase em silêncio.

O sonho pode ser um quase,
Que quase nos aproxima, ou quase nos afasta,
Numa quase realidade
E eu deixei um desejo, quase pintado,
Num, quase, tu e eu.

É quase um dia,
Neste quase mundo,
Numa quase rotação,
Onde quase estamos e quase existimos,
Numa roda-viva, vida, quase.

Eu nunca serei tudo;
Eu nunca serei todo;
Eu conheço a relatividade,
Vi o seu rosto a beijar-me, ou quase,
Abraçado, ou quase, pelos seus, ou quase, braços,
E eu quase.
Eu apenas.



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Um dia curvilíneo


Formal
Escorre-me a água de um rio
E a areia de um deserto
Que alternam de mão
E eu sem mãos a medir

Apreendo
Seria mais fácil se fosse um heterónimo
Ou dois
Ou três
Ou quatro
Ou mesmo cinco
E mais uns semi-heterónimos
Talvez
Um ortónimo
E uma muleta
Coxa

Cai-me o mar do regaço
Imaginem o incómodo
E a inconveniência
Num mundo que vive tão só de aparência


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Só para dizer [XXVIII]:


     Existem dias de vazio, dias de semana, dias que são eternos e infernos. Há dias. Há dias e dias. E, entre tantos outros, existem dias em que um desprazer qualquer nos anexa numa tormenta poética de emoções e sentimentos que nos deixam desalentados. Mas existem dias em que um regresso, ou gosto, ou uma palavra, nos reúne a uma tempestade de vida e poesia, de emoções e sentimentos, que nos arrebatam e resgatam do desencanto.


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

E hoje… (XLII)


     ... Juntas e comissões. Um comité administrador de emoções, outro de sensações, um distinto para os afectos. Todos com várias pastas. Mais cargos e encargos.

     Fica, porém, uma súmula de silêncio sobre o regaço, como uma pena rara, bonita, de ave; como uma prenda antecipada. A nota periférica da ria, de uma paisagem com muita margem para explanar completamente a observação, a fantasia e um cumprimento, rematada por uma atmosfera húmida, a tornar-me invisível, parte da neblina metódica.

     Sereno, o sereno, embora frio, a convidar-me para um chá.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O dia sibila

Os meus tumultos, os teus insultos,
Não mudam o curso da existência;
Da minha existência rudimentar.
A tua noite avoluma os meus vultos
Em sombras que se projectam na tua demência;
Em vagas que só existem no teu mar.
As minhas amarras resistem, teimosas,
Às investidas dos elementos e prosas.

Sinto-me amarrado a uma vida maravilhosa.
Gosto de viver; de separar as coisas importantes.
Qualquer sorriso apazigua e ameniza
A minha hipotética ira ou dor preguiçosa.
Aprecio, mesmo que breves, os momentos de paz;
As alegrias de qualquer pequena brisa;
As lacerações, agora insignificantes;
As liberdades tímidas e titubeantes.

Seco, como roupa no estendal.
Espero ser recolhido, talvez, passado, dobrado, arrumado.
Espero pelo passeio, pela rua;
O ar, que, de novo, me movimenta, leva o sinal.



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Um dia próximo


Olho para a superfície lisa, que reflecte a minha imagem,
E identifico as marcas de expressão, muito expressas,
Evidentes, mas despontadas sem grosseiras pressas,
Que denunciam, do tempo, a sua incontornável passagem.
Noto a falta do cabelo perdido despreocupadamente, e sem pena.
Identifico-me, sem números e sem ilustrativa legenda.
Felicito a expressão tranquila, harmonizada e a alegria serena,
Contentamento puro, como despretensiosa e singela prenda.

Há muito que não me olhava tanto e tão aturadamente.
Reconheço-me e reconheço o brilho dos olhos castanhos,
O nariz fino e que encima o traço da boca, sem arreganhos.
Como é familiar o rosto oval e a testa alta é convincente.
Asseguro-me de que não me esqueci da minha figura.
Não há peso, preocupação, cálculo ou avaliação.
Não há tristeza, sofrimento, mágoa ou amargura.
É um simples olhar sem afeição, esgar ou admiração.

Abandono a duradoura e insistente acção sem movimento
E movimento, sem sequela, o corpo, para o descanso
De uma cadeira generosa, onde, sentado, tudo alcanço
E onde alinho, sem duplicidade ou simulação, o entendimento.
Os anos passam neste corpo usado, testado e maduro
E não os condeno, nem os recordo com toda a minúcia.
Dou continuidade a uma vida, frágil e preciosa, que asseguro.
Não me atormentam os anos vindouros, a quantidade ou a astúcia.

Reservo uma inspiração para a alongar e encher-me de ar,
Que projecta o peito, numa expressão de força e vitalidade.
É o pequeno prazer de um suspiro e não uma efémera vaidade.
Sou feliz e, quando não o sou, esforço-me para perpetuar
O sorriso decorado de quem é feliz sem entendimento.
Sem reconhecer que há felicidade em coisas pequenas,
E em pequenas e comuns se agigantam no sentimento
E na dimensão de coisas essenciais, propícias e amenas.

Não sou grande, nem ilustre e o meu grande feito é viver.
Viver como quem vive, e nem sempre o consigo, desprendido.
Por vezes sigo errante e em contratempo, perdido.
Não importa, isso hoje não me vai ocupar ou deter.
Devo estar com aspecto seráfico, neste sorriso rasgado,
Evidente, luminoso, construído e, simplesmente, corajoso.
De olhar feliz e brilhante, no semblante despreocupado.
Na vida é fundamental procurar ou forjar a satisfação e o gozo.

11/10/2007

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Outro dia mau


Se estou rodeado por pessoas, porque me sinto só?
Olho em volta e vejo o movimento, o vai e o vem
De gentes indiferentes. Outros olham-me também.
Outros trabalham, são meus companheiros e sem dó,
Virados para dentro e para o que mostram por fora,
Sem temores pelos que pisam e deixam para trás.
Imagens de consumição, de gente que me apavora.

Escondo-me no meu canto como trabalhador indolente.
Hoje não sorrio, não quero nem espero pelo fim-de-semana,
Nem o aroma a perfume caro me alenta, nem me engana.
Hoje sou um bicho eriçado que foge de tudo o que é gente.
Sou aquele amorfo sentado que luta para não estar atrasado,
Sem mais vontades do que esquecer, esquecer e esquecer.
Esquecer mesmo muito, esquecer até ficar cansado.

Mas, que faço eu aqui perdido? Merecem-me este tormento,
Esses que de mim zombam pelas costas e covardemente?
Como sinto a falta de um amigo para falar abertamente.
Como sinto a falta da amizade, de um genuíno contentamento,
De um sábia palavra, dita sem habilidades e sem convenção.
Serão os momentos de adversidade que nos revelam os amigos
E eu não os encontro, nem com os olhos, nem com o coração.

A escrita apazigua-me, absorve-me, leva-me para longe.
Não me envaidece. É tão humilde e tão descomprometida.
Serve-me de confidente. Amansa e sujeita-me a alma perdida.
A leitura aclara-me a razão, esgota e renova o pobre monge,
Eremita, embrutecido pelos tombos e deambulo da existência
Que sinto tão longa e tão curta, mas tão cheia e tão despojada.
Há muito que já abalou e ainda aqui habita, a crédula inocência.

Pelintra sim, mas não quero pertencer a escória sem sentido,
Uma massa sem opinião, indiferente, onde tudo é igual e nulo.
Onde um é muito vivo, sabido e outro é muito aproveitado e ‘chulo’.
Quero ser um Ser até ao fim, mesmo sozinho, mesmo perdido.
Não procuro a glória, mas o contentamento e o deleite de existir.
Não renuncio, contudo, à aspiração de merecer o amor e a amizade,
Sem esquecer de onde venho, onde estou e para onde posso ir.

Vou olhar em volta, uma vez mais, para me desenganar e redimir.
Já me sinto outro, com mais coragem, com optimismo e refeito,
Pronto para respirar, até e ainda, este ar fétido e rarefeito.
Pronto para as venturas e desventuras de viver, de existir.
Quero acreditar que ainda há bondade, algures, não muito distante.
É essa a inocência de que falava, que me povoa e doma.
Este não passa de outro dia mau, mas é o agora, o mais importante.

12 de Janeiro de 2007

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Fragmentos



     Emito e perpetuo um silêncio, não por falta de cortesia, não por desagrado, mas por não ter palavras que não pareçam banalidades, lugares-comuns, bajulação, e que exprimam simultaneamente a minha concordância e compreensão completa e absoluta. Lamentavelmente não poderá ver a minha expressão de felicidade e benignidade e não poderá sentir a minha aceitação por inevitável e fisicamente se encontrar tão longe e afectiva e mentalmente tão próximo.


     Os fragmentos do dia dissolvem-se na noite.

sábado, 10 de setembro de 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Só para dizer [II]:

   
     Olá!
  
     Estou denso, opaco e consistente. O dia aparenta gozar de uma dimensão ambígua, dúbia e vontade própria, conveniente, apesar das inconveniências.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Noite, dia de Julho


Noite, dia de Julho

Falta um sono para vir o descanso,
Sobram os sonhos para correr a vida.
Avança pronta mais uma hora decidida,
Rumo a um futuro sem um alcanço.

Ando lento, mas na verdade ando manso.
Noto sem ver quem vai sempre de partida,
A noite, sempre ela altiva e assumida,
Pronta para levar, tirar e dar o balanço.

Diz-me porque os teus olhos já não brilham,
«Durmo.» Não pode ser a simples resposta.
Os meus procuram, perguntam e fervilham.

Mais tarde ao acordar, de vontade deposta,
Sem saber quantos enganos me palmilham,
Vou lutar com a força de quem ama, e gosta.
  

Esgueira, 12 de Julho de 2001.