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quinta-feira, 1 de março de 2012

Acesso a um outro quase-nada


     Incompleto. De porta entreaberta, detenho-me na soleira e afasto, para prosseguir, alguns disparates que vem saudar-me e felicitar-me, juntamente com os mortos, por entre a total e copiosa ausência de som, para onde e para quem se dirigem afectos legítimos e ruidosos que me acompanham. Distinta pedreira. Velha pedreira. Outra pedreira, onde sonhos planeiam unicamente desertos complexos, que fluentes e espontâneos sociabilizam com o estafeta electrónico desligado.

     Mimo o tapete. Acarinho e dessalgo o âmago, abano a alma e entro, sem dados. Deixo que o frio de fora se misture com o frio de dentro, que as ilusões que entram se cruzem com as ilusões de dentro, por um instante, antes de fechar o presente e a porta à chave.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Matiz

 
Limpo os silêncios e as frases,
Abrevio o imenso que não nos une,
Que sei poder resumir em sorrisos
E em palavras de circunstância,
E condenso o tanto que não nos separa,
Em sorrisos que perlongo e pinto
E em vocábulos de entendimento.
 
Sei que não o vês assim,
Como cronologia sem demarcação,
Como presença sem prática,
E em trato agónico e sarcástico,
De impulso amaneirado,
Patenteias em relação inflamada
A fantasia do distanciamento.
 
Para além do escuro, da ausência
E do caldado, que vês,
Tenho um alento regular e habitual;
Sons e mensagens, assim como cores,
Cintilações e luminosidade,
De estima, afeição e de bem-querer,
Sem armas, escudo ou armadura.
 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Acontece


Corre um vento seco de este;
Corre um boato sobre a minha quantidade;
Corre uma tristeza endógena de qualidade;
Corro contra o vento, o boato e a tristeza que infeste.
Corro, corro, corro preso a um mesmo lugar.

Corro, mas corro sereno.
Não me atropelo. Não é necessário temer,
Quando não pesa a mentira ou a verdade.
Ninguém se preocupa com o depois do pôr-do-sol,
Se, por um acaso, o ocaso escurece a alma
De um ensurdecedor silêncio de um vazio.

Corre uma loucura de esquecimento.
Não temam, pelo género, o género;
Não temam a liberdade e o livre arbítrio.
A vitória déspota é, apenas, um mando de ilusão.
Transforma a tua inanição numa vida;
A ocupação numa arte;
A vida e a arte numa referência verdadeira.

Corre um prazo vencido, num tempo desvalorizado;
Corre um triunfo omisso e falaz.
O cerne de um enfado superior, um misto de reveses,
Circula num rumor dissimulado.
Naquele sussurro escrito, emitido, fugaz.

Corre uma técnica eficaz para obter o esquecimento:
A evasiva frutuosa da retórica fantástica
No torpor integral de um paliativo demagogo.

Corre o submisso uso do costume.
Ó brando critério de análise,
A antífona ainda ecoa na ravina;
A ravina absorve a soma íntegra da inteireza;
A inteireza perde a recta justiça;
A justiça, que já era cega e vendada, é contrafeita;
Contrafeito vai, agora, o crédito.
Terá o eterno descanso das ondas do mar.

Corre um requisito desvanecido de conteúdo;
Corre o receio;
Corre uma adaptação de paz.
Estas são informações confidenciais:
Sou tão fácil de lavar.


domingo, 15 de agosto de 2010

Continuação



Continuação

O afecto cresceu à volta de um Homem só
E não o deixou, nem para o descanso do dia.
Naquele momento começou o toque de uma melodia
Alegre, bonita, levantando as camadas de um pó
Velho, bafiento e desconfiado, pelas amarguras
De desencontros, desencantos e desventuras.

Sem medos avançou pela vida e abraçou o amor.
Uns tropeços caíram e outros de pronto se levantaram
A par de uns pares de mentiras ouvidas, pois contaram
E nunca ninguém provou a sua verdade e o seu calor.
As anedotas e invejas, as revoltas e intrigas urdidas,
Queimaram-se num passado de felicidades vividas.

Viver na entrega, na dedicação e na procura diária,
Como num namoro constante e nunca esquecido.
Uma união sempre presente e no Homem enriquecido,
Possuído e revestido por uma força extraordinária.
Foi um bom inverno, foi uma boa primavera, é um bom verão.
Espera, mas não sentado, continuar perto da viva emoção.

Homem em quem cresceu o afecto, para onde vais tu agora?
Olha a tua volta e vê a solidão de quem nada deu,
Escuta e ouve o silêncio de quem por egoísmo se perdeu,
Camuflando uma vida sem nela estar dentro nem fora.
Sente a calma da consciência tranquila e do dever comprido.
Hoje vais ser feliz, porque não te deixaste ficar desiludido.

O afecto continua livremente no Homem para servir e ser servido.

Esgueira, 12 de Julho de 2001.