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sexta-feira, 2 de março de 2012

Nascente do canto do conto do diz


     A fonte secou e o efeito composto foi, também, dirigido à noite.

     A noite, actualmente munida de alguma incoerência de sinais, arruma a prática da quietude e do efeito imparcial. Ninguém aparenta saber a história, ninguém a contou. Faz-se sentir a consequência: A fonte secou e no lugar impensável, indispensável, já não é possível regar o «depois» e o «devir».

     Possivelmente, a direcção da presença indeterminada fermenta o azedume, retalha a vontade e obstaculiza o fundamento, em dolo coloquial de entendimento.

     Próximo dos contentores de um ecoponto alegórico, vi alguns enunciados expostos em sequências discursivas intuitivas, que apontavam para mim, secos, também, e presos em raposas simbólicas, que recebi sem oposição, sem confronto e sem aclarar. Não quis afugentar os animais com os meus apelos, com os meus chamamentos e com as minhas mesuras, mas a sua natureza bruta e gentia, contudo, precavida, não permitiu qualquer entendimento e a aproximação insatisfatória consumiu-se por completo.

     Muitos sentem comiseração ao contemplar a cega noite que vê, apenas, a escuridão do seu negro capelo, que ela própria teceu e encapuzou; que, surda, julga serem delírios os gritos e as vozes que a alertam; a, tímida, que escancara e exibe a existência atrás das muralhas de vidro, que construiu para se esconder e que limpa, de imediato e voluntariosa, quando embaciam; que, muda, a todos brada, aponta, escorraça e intitula de «perseguidores».

     A fonte, em concordância com a sua natureza, naturalmente sem qualquer alternativa e recurso de motricidade, aguarda pela dádiva da Natureza; pela oferenda que se entranhe na terra, sacie a sua sede e a faça jorrar o manancial que alimenta e segue no curso estabelecido há muitas eras.

     Reconheço a impotência. Desconheço origens e afasto-me, sem julgar, sem maldizer, dos sentidos de lamúria vaga, dos sentimentos de prantos indistintos e dos afectos de carpideira. Encontro a amabilidade integral e a renovação, sem tanglomanglo de rumo ou de qualquer outra natureza.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fonte



Fonte do presente, popular passado e sem futuro?

Crescem valados na velha fonte abandonada,
Fonte de encontro de escondidos calores.
Perdeu a pureza da água, que ganhou cores,
Talvez, por ouvir tantas e falsas promessas, cansada.

Ainda se ouve a melodia líquida arrastada,
Já sem os beijos, os abraços, as alegrias anteriores.
Foi a Fonte do Arneiro, nunca a Fonte dos Amores,
Que os acolheu na ânsia fresca e apressada.

Muito sonhei, ali, despreocupado e demoradamente
E, também, ali, amei só, um pedacinho de gente,
Aspirava às alegrias, que sempre foram ilusões.

Não te culpo, nem a ninguém, por não estar contente
E não te esqueci, fonte esquecida e sem ambições,
Onde formulo desejos e prometo não enjeitar convicções.


Outubro/Novembro 2007

Soneto sobre uma certa fonte.