sexta-feira, 29 de agosto de 2014

mais coisa, menos coisa




há tempo para umas palavras 
que se evadiram da poesia 
e que se perderam pela tarde, 
repartindo silêncios pelos olhos, 
lugares imensos que se expõem 
nas minhas mãos repletas de longe. 
longe nem sempre é a distância, 
pode ser a circunstância de escrever 
espaços no céu e na água do mar, 
o mesmo mar de corpo empanturrado 
de gritos de poemas contundentes 
e de caminhos em construção. 



-inicialmente no paralelo [25 de abril de 2014]


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

argau 14




gosto de repetir a brisa fresca e húmida 
que provém do mar, ao final da tarde, 
quando a praia fica só e eu me encontro 
devagar. aqui, assisto ao nascer das noites, 
sem palavras; ao afundar da dimensão 
na penumbra; e ao recolher reservado 
das gaivotas em introspecção provocada. 
enquanto os caramujos falam de amor, 
sem medo, por entre os seus movimentos 
hesitantes e oscilantes, o tempo pára. 




quarta-feira, 27 de agosto de 2014

argau 13




sem contestar o depois
depois vieram os dias
que sucederam aos dias
de partir a partir de tróia

riscámos várias vezes o céu
como estrelas cadentes
fomos a chuva de estrelas
na vida sem guarda chuva

e chorávamos como crianças
a cada nova despedida
mesmo que breve

de setúbal tenho uma parte
no lugar vago pelo que de mim
por lá ficou sem forma




terça-feira, 26 de agosto de 2014

solvente





em cada grão de poeira,
depositado nas palavras fugidias
de uma história insolvente,
há um alerta de sobressalto
que sobrevém sem termo
às manhãs que já passaram,
às tardes que são memórias,
às noites que são trevas.
nunca deixei de ser a sede
que o imposto me seca
nas mãos vazias e despidas,
até da pobreza de um sonho,
que ainda assim o anunciam.



-inicialmente no paralelo [17 de abril de 2014]

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

argau 12




o presente sai da pipeta.
afasto a estrada para dar passagem
ao caminho que percorre o trilho.
o tempo, espaçadamente, pára,
com hiatos de actividade lenta.
o teu nome é uma eternidade
que se conjuga e desce pelas memórias
povoadas pelas encostas de dias inertes.
hoje, é o dia de voltar a ver o mar
contigo, embora só, e sinto a onda,
que ajudo a sentar e a repousar,
a quebrar mansamente na areia da praia.
é sempre um momento único
ver os teus olhos no pôr-do-sol
e escandalizar, sem intenção,
mas sem embaraço, as gaivotas,
com um abraço, que é o próprio mar.




sábado, 9 de agosto de 2014

paralelo, o início





deste lado também existe um paralelo, 
com linhas que desfiguram a paisagem, 
onde qualquer pessoa pode começar, 
hoje. 
o tempo nunca há-de entender 
o sofrimento ameno das dores de parto 
ou das dores da partida, 
nas dores do amor. 




-inicialmente no paralelo [07 de abril de 2014]

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

argau 11




as janelas entreabertas para temperar o ar 
eram a imagem de uma vida aberta 
o dia nascia e a alma já estava acordada 
portalegre sempre foi bonita 

nunca nos perdemos na serra da penha 
também já não havia nada a perder 
e a ausência da saudade do mar 
era a existência da exuberância 

da planície vista dali até ao traço difuso 
que era a consciência do horizonte 
aquela sensação de presença constante 

o amparo para qualquer adversidade 
e deixávamos cair qualquer prenúncio 
das nuvens onde ainda somos crianças