A areia que me fustiga
A gaivota que me investiga
O caranguejo que me observa
O mar como horizonte e banda sonora
O pôr-do-sol que se demora
O céu que se avizinha e reserva
O peixe que se abriga
A sereia que se foi embora
Desfilam os pensamentos
Numa coreografia de movimentos lentos
Vivo em reflexos e lembranças
As nuvens transportam o presságio
O parecer que ficou sem sufrágio
No éter e nas mudanças
Os traços de sentimentos
Orlas de tempestade por apanágio
O vento que me impele
A doce reminiscência da tua pele
As carícias que nunca me deste
O entendimento que está a leste
As embarcações que me ignoram
As águas que aqui não moram
Uma expressão hirta num olhar estático
Um desejo demasiado pragmático
Um gesto indeciso
O sorriso
Fecho os olhos
Ouço
as ondas nos escolhos