Pedi algum tempo emprestado;
Pedi desculpa, para não voltar a pedir.
Transformei os afectos num menir
E comecei o que agora dou por terminado.
Por muitas e boas intenções fui carregado
E, quando perdido me encontrei,
Não soube emendar o que desbaratei.
Não perderam a oportunidade de me deixar assinalado.
Com essa marca de um fogo alheio
Atravesso as linhas tortas que adoptei;
Trespasso o vazio preenchido
Pela desgraça de tudo quanto é feio.
Não sei quantas felicidades pulei.
Contrito, sou parte e um alter-ego dividido.
Não consigo devolver os instantes despendidos;
Não consigo reaver as desculpas das culpas
Que não existiram, nem os seus sentidos.
Os espelhos eram realidades invertidas;
Vaidades intolerantes de desinformação;
Medidas imprecisas de devaneios.
Os reflexos eram brilhos de luzes pervertidas
Em vórtices de demente excitação,
Logro de um prazer espinhoso e de arreios.
Fadado, de fado em fado,
Num fado que não é meu,
Sigo arqueado sem crença;
Sigo longe do agrado;
Sigo uma vontade que se esqueceu;
Sigo uma absolvição da sentença.
Do outro lado do rio sem vida,
Belo, silencioso, paciente,
Encontra-se o meu estranho barqueiro,
O da remada precisa e decidida.
Folgo em vê-lo sorridente
Mas hoje não vou ser o seu passageiro.