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terça-feira, 27 de novembro de 2012

E hoje… (XLV)


     … A vida continua. Abandono o meu corpo, dormente, e viajo por caminhos indicados por pontos de luz e estrelas, movido por uma vontade que vence as trevas desenvolvidas e que ludibriam o chão, de onde me ergo.
     
     A decisão final é nossa, até que o último reflexo de sanidade mental se apague, até ao último eco de discernimento, até que se desvaneça o arbítrio. Nem tudo é legitimado pelo contexto.
     

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Observar com contexto de lugar



Observar com contexto de lugar
ou
Estar fora

     Preparo-me lenta e calmamente para a sorte, com destino e sem destino. Estou cansado, em comparação com os fatigados.

     Lavei as mãos, que escreveram as últimas palavras na areia, no mesmo mar que lavou a areia e que apagou, da areia, as últimas palavras escritas pelas mãos lavadas. Isto aconteceu há uns dias e não lavei as mãos, precisamente, fiz com que a água salgada retirasse a areia que se fixara nas mãos, mãos que ficaram com o seu gosto e odor, o gosto e o odor do mar. Não ficou o seu som e, por bem, não se fixou qualquer cor. Não transporto o mar nas minhas mãos, embora o tenham, mas possuem um mundo, vago, com vários mares e marés.

     O mar fala-me sempre que me vê, não me diz o que quero ouvir, diz-me o que quer e o que lhe convém. Sem própria boca, ele não tem os seus próprios olhos, mas tem olhos próprios e boca própria. Ele tem ondas, quase sempre, e eu faço algumas, de vez em quando. Sei que somos amigos e por vezes, por vezes, zangamo-nos, mas devolveu-me sempre, assim como devolve algum lixo. É estranho lavar-me num amigo, que, de alguma forma, me suja e lava quando me molha e me lava sem me molhar.
  
     Prevarico, tomo banho todos os dias, pelo menos uma vez, quase sempre de manhã, não no mar e a areia não sai.

     Estou sentado, não há mar, não há areia. Não é tarde. Chegou a hora de entrar decididamente no destino que não existe e que se produz, depois de abrirem a porta.

     Abrem a porta.

     Os olhos adaptar-se-ão ao novo ambiente, à nova luz. Hei-de me erguer definitivamente, e os olhos comigo, em silêncio e com um esforço de esboço de sorriso ligeiro, para desabar desassombradamente no mar.

     O que importa?
  

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Matiz

 
Limpo os silêncios e as frases,
Abrevio o imenso que não nos une,
Que sei poder resumir em sorrisos
E em palavras de circunstância,
E condenso o tanto que não nos separa,
Em sorrisos que perlongo e pinto
E em vocábulos de entendimento.
 
Sei que não o vês assim,
Como cronologia sem demarcação,
Como presença sem prática,
E em trato agónico e sarcástico,
De impulso amaneirado,
Patenteias em relação inflamada
A fantasia do distanciamento.
 
Para além do escuro, da ausência
E do caldado, que vês,
Tenho um alento regular e habitual;
Sons e mensagens, assim como cores,
Cintilações e luminosidade,
De estima, afeição e de bem-querer,
Sem armas, escudo ou armadura.
 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Dilema


O fim que as vírgulas do dilema
Realizam em pausas de direito
E dos pontos e vírgulas que activam
As pausas mais longas de capacidade,
Locais onde inventei mais de mil cores
E um só amor alimentei,
Determina a dor e o rudimentar golpe,
Verdadeiramente amargurado.

O fim dos pontos de exclamação do dilema
Apontam a interjeição arrumada
Da exclamação projectada numa oportunidade
E os pontos de interrogação duvidam,
Nos mesmos lugares onde construí castelos
E um só amor acalentei,
Do fim que os pontos do mesmo impasse
Efectivam em finais de período de tolerância.

O fim que o último parágrafo do dilema
Cativa em conclusão descoberta e pura,
Nos sítios onde plantei palavras ou árvores
E um só amor desenhei,
Aliena e é surpreendentemente redentor.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Norma de contexto



Num dia em que as letras deixaram de formar palavras
Encontrei-te algures entre as penas de uma melodia
Nas vibrações de um ar seco de alusões de fantasia
Sobreposto às condições de vida e a subjugar lavras
A meio caminho entre a veneração e a heresia.

Pobre fragmento de coração inquieto e deslocado
Crédulo e vago no sentido de uma diligência vencida
Determinação de paralogismo e piedade estabelecida
Marioneta de um rumo constrangido e simbolizado
Para num ápice determinar a luminescência de uma saída.

Das máscaras que se transformaram em rostos
E das caras que se converteram em disfarces de paz
Retornaram os termos incluídos que refutas sagaz
Num alcance de ambições, com escolhas e por gostos
Num dia em que o sinal e a doutrina não satisfaz.