segunda-feira, 22 de julho de 2013

Vindo do quase




Quase sempre, quase quase.
Não me digas que o quase fica fora de mim,
Ou que me foco e vivo no quase,
Quase em silêncio.

O sonho pode ser um quase,
Que quase nos aproxima, ou quase nos afasta,
Numa quase realidade
E eu deixei um desejo, quase pintado,
Num, quase, tu e eu.

É quase um dia,
Neste quase mundo,
Numa quase rotação,
Onde quase estamos e quase existimos,
Numa roda-viva, vida, quase.

Eu nunca serei tudo;
Eu nunca serei todo;
Eu conheço a relatividade,
Vi o seu rosto a beijar-me, ou quase,
Abraçado, ou quase, pelos seus, ou quase, braços,
E eu quase.
Eu apenas.



terça-feira, 16 de julho de 2013

experiência aleatória




a-propósito
na minha vida há nuvens sem rima
e rimas sem poemas ou poesia
para além do olhar absorto e redimido

pouco importa se em prosa ou em verso
na minha vida há sol e lua
há férias e elementos que me sorriem
que de alguma forma chegarão
chão que se agrupa em azuis
em verdes e em transparências

deixo-me ser uma floresta de saudade
chove-me um silêncio miudinho
que derrama realidades que não se tocam
onde as confidências de inconfidentes pedem reserva
que reservo no recato de uma caminhada
e as rimas pedem nuvens
onde toda a verdade é um sonho



quinta-feira, 11 de julho de 2013

saudade urbana




com o efémero por sombra
com palavras insolúveis
rumo ao muro caído
as imagens corrompidas pedem ajuda
neste lugar de improviso
onde os termos preenchem o vazio
nos alicerces das prosas soltas e livres
sem paralelo ou arbítrio de sons mais ténues
transporto um ponto num ancoradouro
e numa vontade sociável
que se funde no mar depois do céu



terça-feira, 9 de julho de 2013

Esta é uma inteira verdade




Quero certificar que, como pequeno pombo, extraordinário,
Sem pudor, penas ou mágoa,
Fui lançar as minhas penas soltas à água,
Mesmo ao lado da lomba do meu espaço sanitário,
Um alto insignificante, formado por palavras minhas e extenuadas,
Que amontoo para, assim, terem préstimo e serem usadas.
Esse é o manancial do meu prontuário
E o lugar de regresso do meu rimário,
Sem pesar ou amargura,
Sem destino ou destinatário.



segunda-feira, 8 de julho de 2013

identidade




diferentes ostras que nunca apetecemos
sem ser o tudo do todo num sorriso
num entretanto longo
que beija sem lábios
em demoras lânguidas
em lapsos inatos de carícias
em luas que vão distantes
em lembranças erigidas
hoje também cala o vento
o sol ainda queima o âmago
e a celebração que alcança fracções
dos meus fragmentos conquistados
dos meus retalhos perdidos
à razão que adquire o discernimento
em anáforas que se espojam nos sentimentos
num dito mito que anula o rigor
e diferentes abraços que gemem a forma desencontrada
diferentes que nunca ficamos
diferentes que nunca ficámos
diferentes em diferentes alienações de tempo
que se sustenta da aparência do evidente
na conspiração clássica do talvez
e se enforma e informa na junção e no modo onde fica o amor
 


domingo, 7 de julho de 2013

um eco em intenções de voragem


areia molhada


encontrado num sonho que talvez em sentidos não conheça
afastado dos meus semelhantes mais próximos ou distantes
dei palavras soltas aos corvos que comem só as consoantes
e eu fiquei com as vogais em suspiros suspensos em gemidos
de utopia e remoinhos de abismos fora do entendimento
e além do aforismo generalizado que vulgariza o indivíduo
a sentença que futiliza o parco sentimento desprotegido
não acredito na generalização incontestável de uma máxima




sábado, 6 de julho de 2013

cais da lua


 

só a minha lua brilha nesta noite
a felicidade existe e procede da paz interior
a paz de quem vive em paz com as expectativas
de expectativas que não existem
enquanto escorre a racionalidade de uma frase
que profetiza mudança e bonança
talvez só a minha lua brilhe de novo
e dela o assunto não é notícia
nem a notícia será a matéria crescente
nas fases de um papel rasurado
e quanto da luz desta lua será a tua existência
interrogada que foi a escuridão do termo
num provir desconhecido e que não é o amanhã
a manhã há-de cair no cais sem designação
como a luz que eu sou nesta lua que só hoje brilha


  [24 de Junho de 2013]


sexta-feira, 5 de julho de 2013

O açude ocidental




De acordo, Dassiano, falemos do que adenso.
Eu sei que, por vezes, me condenso;
Por vezes, a minha voz fica embargada,
Com palavras presas por, ou a, um nó, na garganta,
E o silêncio aparenta uma cilada.

Por vezes, as minhas palavras insistem
E o seu eco devolve coisas que não existem.
Não são os meus olhos que fingem,
As palavras pesam sempre mais para quem vive,
Apenas, e só, com, e por, elas, que, por vezes, não tingem.

O meu mar de palavras não desiste.
Eu tenho o direito de ser triste,
Tanto quanto de ser, ou querer ser, feliz.
Sei que eu quase não durmo com a cidade,
Quando a cidade dorme, e a minha noite não condiz.

Eu estou acordado enquanto sonho com ela,
Apenas numa efémera janela.
Perde-se o paralelo. O meu nome não interessa.
Existem circunstâncias em que as palavras não atingem
E os pombos alimentam-se da promessa.


  [21 de Junho de 2013]