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terça-feira, 17 de setembro de 2013

O cenário pungente



Só.
Não é necessário que a vida faça o sentido que queremos,
Quando o perdemos.
Recordo o regresso ao domicílio, talvez, lar.
As férias gastas com ausência.
Por toda a casa cresceu um pó, fútil;
Fede, na cozinha, um copo de leite vivido,
Sinal do aperto de um apertado pequeno-almoço.
Talvez o pior cenário seja o da poesia que pulula,
Ou teima em brotar, alucinadamente,
Dos atributos de aparente abandono;
Do asco; da repulsa.
Só.
E o Mundo já acabou, mais uma vez.
Aquela imensidão de matéria, e de acaso,
Pereceu num pôr-do-sol de um dia de tempestade sem vida.
Eu acredito no pombo,
No pombo simples e ordinário,
Que defeca livremente, no novo acto.
Defeca para quem zomba, tomba, romba e ribomba,
Mesmo, e também, no raminho de oliveira.
Não sei o que faço eu, agora, com a Lua e o Sol,
Com o sol e a lua.
Por cada novo dia, em paz, semeia-se, e colhe-se, uma vitória.
Só.
No bom e no mau sentido, o mundo ainda treme
Quando penso de ti,
Quando o bem e o mal já não existem.
Tudo se conjuga e divide na ubiquidade da vontade.
Talvez quem ame não conheça o que ama;
Talvez não conheça o que amo, quem amo,
Ou, porque amo.
E por vezes, só, significa, apenas, sozinho;
Noutras vezes, só, figura, somente, apenas.
Só.



terça-feira, 6 de agosto de 2013

quem a não tem





há vida por aqui
e a vida circula por aí
o rumo pare passados e lembranças
há uma vespa em cima do ponto final
e eu estou no remate de uma frase envolvente
a agra ingressa na equação simples
o sol brilha por entre a rama de sonhos
pairam pedaços de poesia permeável
em sombras hesitantes de momentos decididos
no balanço da coragem de braços subjugados
pelo arbítrio indivisível da serenidade livre
contrários ao sentimento e aos sonhos acolhidos
na cidade perene e dormente
indiferente aos drenos da inexistência



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Advimos


o mundo inverso



Ponto!
Encontro a desistência do texto
E a inércia de um símbolo curvado,
Pouco depois da lenda que antecede a pausa.
Na exclamação de algumas prudências,
Reduzo o que sei poder abreviar em sorrisos.
Pressinto que poderíamos ser um pouco um do outro,
E outro tanto,
E não o muito que nos separa.

À noite pintei o céu de verde,
Sem assunto,
Num padrão adormecido.
Num distraído sufixo da norma,
Fixei o vento
E ergui um tudo-nada de ordem
No simples que nos une:
Advir.
Ponto.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Neste lugar sem data


Demoro-me secretamente no que não existe
Nada há a perder ou a ganhar
O amor deixa de o ser e agora é
Nas palavras que podem sonhar
E silêncios feitos de essências discretas
Como fortalezas de bruma
Direitos que decretam direitos
Que consentem devaneios
Em artigos de liberdade
Como mensageiros de polissemia

Primeiro pensei era um pesadelo
Crente num sentimento sem alma
Bonito e corajoso por fora
Decrépito e senil por dentro
Mas depois esmaguei-me na realidade
De uma afirmação inconfidente
Que deixa uma sílaba
E vejo os seixos nos meus olhos
A darem-me um caminho
Que nem próximo me vê

Agora é mais fácil saber onde começar
Todos os erros me fizeram crescer
Eu sou apenas um homem que sempre foi
Com um punhado de palavras
De um natural ambíguo
Que se libertaram da pontuação
Num gesto animal de fadiga
E ficarão assim para a eternidade
Vocábulos de múltiplas identidades
Sensações e sentimentos imperfeitos
Em pontos que estimulam o lapso
Com gemidos de bem-estar e prazer

Eu espero veladamente sem ti
Estou em abraços com poemas
Um saber e calar pausadamente
Capturado num sonho que é real
E é uma visão e conceito e som e gosto e tacto
É uma permanente metáfora
É um universo em recriação
É um disparate de sentidos
Mas não é posse
Vive e convive na minha alma
Dá-me esperança
Descansa e por cá fica


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Soltas à solta


     Notas soltas… Pontas soltas… O conhecimento de um dia sem arbítrio, sem termo, na ciência da memoração; num lapso que se repete, repisa e rediz. A concepção do tempo e da sua duração frustrasse, dissipasse, extinguisse, em mim, e regressam, uma e outra vez, as distâncias, os intervalos, os hiatos, ligados por velhas, e já assinaladas, pontes elásticas sobre linhas de água sem paralelo.

     Quero a serra e o mar. Talvez devesse viver numa ilha, mas como pode uma ilha viver em outra ilha?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Patente


Pondero.
Perdi a homógrafa dita
Nas alienadas massas de falácias
Que não quero.
Saliento a urbe aflita
Que transporta contumácias,
O indeclinável ónus da contenção;
A inatacável carga de agitação.

Por certo, não há momento oportuno
Para a derradeira palavra,
Nem para o que serve de emposta.
Comovente, alegórico e uno,
Desce a quimera macabra
Numa humanidade disposta
Em falsete a prazo,
Em jovial acaso.

4 de Janeiro de 2012.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pinta



Freto o crepúsculo, com um sorriso,
Que carrego e é meu, não sendo de ninguém.
Levo de tudo e saudades, que não deixo, nem preciso.

Sabia que um dia seria assim,
O fim estava traçado e repleto de zelo,
Só, como sempre desejei e imaginei.
Não lamento, não há mágoa, há o simples fim
E é bom trazê-lo.

Mesmo sem o ponto, que aponto, quase tonto,
Não foi o ponto, e o ponto, o ponto final,
Sem redução ou simples lei,
Por mais voltas que o ponto tenha, com desconto,
Rumo sem ponto ao encontro do ponto original.

Não é queixume, coisa aturdida de outra invenção,
É alegria, descanso e ponto.
A sobra sobeja na industriosa imaginação.

Enquanto descalço a jornada;
Enquanto dispo o encargo cumprido;
Enquanto me agarro ao verso sem nó e sem grei;
Enquanto quase tudo, e já quase nada:
Somo contentamento à viagem do vivido.

Dona Aurora ficará sem rasura,
Apara de liberdade livre e liberta.
Saibam cuidar dela os olhos que desvendei,
Talvez de uma forma dura,
Mas sempre com a bondade que o carinho desperta.

Pinta a pinta com pinta e meia,
Com pena de pinta-caldeira,
E logo a pinta é mais pinta do que a pinta que a semeia.





E Dona Aurora(r) ficou, precedida por outras auroras e outros "aurorares".


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ponto


Se não vale a pena chorar,
Então não vale a pena respirar
O ar poluído, contaminado;
O ar mortiço, quente e húmido,
Que me deixa apático e sufocado.

Deambulo pela casa, com a luz apagada,
Errante, como uma alma penada.
Transporto uma cabeça de gigante,
Um aperto verdadeiro, mas não identificado;
Uma angústia real e galopante.

Sorrio, como um louco, no escuro.
Procuro, tacteando com os pés, o degrau seguro,
A escada que me fará descer, mais ainda,
Na viagem até, e fora, de mim.
Encontro-te, saúdo-te: Bem-vinda!

Passo, lentamente, a mão ignorada
Pelo cabelo que não me abandonou a morada,
É macio e olho, sem volta, em vão.
Sinto o arrepio da luz que me enche,
Vejo como quem não procura uma ilusão.

Quero adormecer antes que as palavras se repitam.
Não quero deixar de sentir as forças que acreditam,
Mas estou cansado de lançar esteios,
De fazer pequenos atilhos, de escorar, de segurar.
Coisas que não passam de remedeios.

Hoje não desço mais, talvez mais tarde…
Deixo os “ses” no patamar, sem alarde.
Decoro o que sinto, sem dificuldade,
No conforto da subida que me refresca.
Transbordo do campo e esvazio-me da cidade.


29 de Julho de 2008.