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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

À volta e em volta



     Por momentos, o meu horizonte fixou-se entre a ria, o meu sorriso e uma cauda de condensação. Um quarto de volta e ficam invisíveis.

     Uma aranha passeia-se num início de teia, à volta e em volta da sua solidão, onde parece ocupada. Não acredito que esteja a fingir. Talvez esteja cansada, como eu, que a deixo em paz, na sua paz, de momento, hoje. Um quarto de volta e fica o descuido.

     Quero apoiar a cabeça na inércia do sono sem sonho, antes do momento da noite em que as palavras, os objectos e os seres se fundem e confundem. É um momento fugaz, efémero, subtil, quase imperceptível, mas quando se distingue, interioriza, compreende e discerne, deixa uma marca indelével e inesquecível. Bem sei que a duração, o tempo, o momento, são unidades de medidas relativas, dimensões condicionadas. Um quarto de volta e saiu do vórtice.

     De manhã chegará a obstinação do acordar e do desejo, antes do cansaço. Desejo controlar o momento, o sorriso, a energia e ser. Um quarto de volta e existo.

     Insisto, regresso ao meu horizonte, a ria, de factos invisíveis, de descuidos, de vórtices e de existências.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Seio


Noutro momento
O tempo já não espera por mim
E houve um tempo
Ouve o tempo
Prossegue o espectáculo
Dentro do prazo
Sem data de validade
Numa expiração renovada
Que sem me acordar me desperta
Com a sua mão ausente
A fé em espelhos deformados
Princípios de nada
Não-ser de essência
Que se propaga e mistura

No fundo do seu fundo, abre os olhos
Conhece a cena de cor
E os sonhos nos vidros partidos
E na água derramada por terra
Que vive

Vive algo dentro deste peito
Outro tanto parte num veleiro
A quem chamaram “Fortuna”
Mas que se chama “Forma”
E formatado sem regresso
Não foi executado para sempre

Noutro tempo
O momento já não espera por mim
E houve um momento
Ouve o momento
Que não fala de novo
Dentro do rio sem açude
E sem estagnação
Na escora das horas
De um pesar incolor
E de coloração ser dor
Que pernoita num punhado vago

No íntimo denso das manhãs
Que já não acordam
Não ocorre um tempo
Vive um olhar que não reside
Não existem saliências caídas
Há argumentos despidos
Mantos abandonados
Mandos que não abrigam
E uma nascente conformada
Por entre caminhos esquecidos

Tive um tempo que acordava
Num tempo que não dormia
Tenho um tempo que não dorme
Num tempo que acorda
Numa brisa de dedos frios
De uma bruma dobrada
De um ancoradouro de abrigo
Desobrigado
Onde não se diz o adeus tácito
E o bem-vindo implícito
Vive nos gestos e feições

quarta-feira, 21 de março de 2012

Breviário [XXIV]


     Por que há momentos para a prosa desocupada que se torna prazer; um prazer que gera energia; energia que governa a existência; existência que também é estima; estima que fortalece e sacia e tranquiliza e é vida; vida que é amor, quando todo o resto não tem mais importância, proveito ou interesse.