quinta-feira, 30 de junho de 2016

em diferentes comprimentos de onda


aveiro | portugal


é o meu olhar que te apresenta 
aveiro, no limite da geografia, 
como um arquipélago de magia. 
adivinha-me, agora, uma imensa, 
e minuciosa, filigrana de afectos 
e desejo nos meus olhos. 
o amor funde-se nas cores, 
no tempo, nos objectos, 
nos seres, no espaço! 
também podemos amar 
no imaterial dos poemas. 
anda…
escrevo a palavra «início», 
no canto inferior direito 
da tela final de junho, 
com uma explosão de luz 
que projecta cores inabaláveis, 
no exacto local das sombras nocturnas. 


 [elipse]


labirinto


escadas do farol de aveiro, praia da barra, ílhavo - aveiro | portugal


é o labirinto dentro do tempo que nos mantém 
fora do mesmo espaço, a redenção no destino 
de uma medida a olho, que toca o coração. 
não importa o destino do labirinto do abraço. 
por vezes, perco-me no labirinto do teu nome, 
que conduz ao teu corpo, outro labirinto, 
e procuro, no labirinto das cores, encontrar 
a saída para o labirinto das palavras, 
que nunca possuem a exacta medida 
do labirinto dos meus afectos. e atravesso-te, 
labiríntica, como a uma parte de mim. 
tudo coisas que a poesia também perdoa. 


 [elipse]


pitada


aveiro | portugal


há uma ponte que perdeu as guardas, 
o halo e os laços de amores amarrados. 
a ria mostra-me as algas no seu cabelo 
de água, onde viaja o verde das horas 
que adquiriram a postura de uma ponte 
que luta contra a solidão da internet. 
em breve, poderão, de novo, amarrar 
o amor na ponte, como algas coloridas, 
como quem pretende, também, medir 
a erosão do tempo, uma outra ponte. 
as algas, entretanto, estão a meio de uma 
revolução, no insondável da alma rasa da ria.  



 [elipse]


a cores


s. jacinto - aveiro | portugal


nós pintamos a vida com as cores que libertamos. 
vem a tempo de tudo, do que o tempo nos permita, 
sem conhecermos a duração ou todas as cores. 
vem matizar os meus tons de azul com os teus 
tons de azul, ou com os teus tons rosa. melhor, 
vem matizar todas as minhas cores com todas 
as tuas cores. creio que é essa a essência do amor, 
a mescla das cores de um no outro, sem deformar. 



 [elipse]


pastoril


alto alentejo | portugal


mesmo quando somos todos da mesma ilha 
e nos encontramos atrás de uma mesma máquina, 
deveríamos poder ser o pequeno ponto desigual, 
a vírgula que é uma cedilha, a língua que toma 
o gosto diferente de uma mesma pedra. 
não temos que nos aglutinar num ponto maior, 
como um conjunto de pontos padronizados e coléricos, 
e, pelo mesmo paladar, bolçar sobre outros, com outro 
gosto, a repulsa própria pelo sabor da pedra 
que aprendemos a detestar. 
a diferença não nos desiguala, 
evidencia a nossa fragilidade. 
no fundo, nós, seres humanos 
somos todos da mesma cor, 
do mesmo tempo, do mesmo espaço, 
da mesma amalgama de energia e matéria:
a mesma parte bestial de humanidade. 



 [elipse]


: dos poetas.


portalegre | portugal


são os sonhos, e, por vezes, os sonhos de um 
ou de vários sonhos, que alimentam a luz própria 
do poeta e as suas prováveis múltiplas faces, 
as suas plausíveis numerosas existências, 
os seus possíveis copiosos amores ou apertos, 
os seus presumíveis abundantes cenários e extremos. 

o autêntico poeta, é aquele que ressuscita a eternidade; 
é aquele cuja poesia já nasce inevitável ao dia, apenas, 
pontualmente, oculta por nuvens de uma outra ilusão, 
ilusão que sempre o mantém encoberto em vida. 



 [elipse]


quarta-feira, 29 de junho de 2016

nota de devolução


aveiro | portugal


entre a carga e a descarga, 
quero, por vezes, desaprender, 
desenganar-me de novo, 
agarrado a exactidão do instinto; 
esquecer que já tudo foi dito. 
reaver a companhia dos fantasmas 
do futuro que nos descobriam 
a razão tão sentimental. 
acreditar, de novo, que a fome, 
a crueldade, o ódio, a guerra, 
qualquer tipo de violência, 
doença ou catástrofe, nos comove, 
devolve a culpa e mobiliza. 
quero aprender coisas novas como: 
ser possível confiar em quem chefia; 
que ninguém governa rudemente; 
que o poder não corrompe; 
que um deus é certeza do amor. 
sentir que o socialismo não é irónico, 
que o senso não empalidece, coagido; 
que o socorro, a compreensão, 
e a bondade são inatos à vida; 
que tudo isto nos pareça maduro 
e não cruamente repetitivo. 


 [elipse]


supostamente


salinas (junto à cidade de aveiro | portugal)


deambulo do marachão para as marachas 
e um poema vibra com uma ligação salina. 
de fora para dentro, sinto o hálito frio do oceano 
que a ria propaga nos meus braços de verão. 
braços que recobram da forma do inverno 
que a zelosa primavera não ousou tocar. 
mas tudo parece responder a uma admirável 
ordem inquestionável, como que perfeita, 
enquanto descubro que não gosto de escrever 
e quando mais se torna irremediável fazê-lo. 
o céu parece curvar no horizonte. entorta a luz 
e o futuro, que ainda rasam a pele de um sorriso 
rasgado, debruçado sobre o papel espelho. 


 [elipse]


terça-feira, 28 de junho de 2016

ilustrar


santa cruz, torres vedras | portugal


o pitoresco da paisagem, nos abandonos na areia sentida; 
os tons de azul que se perdem da cor do teu crepúsculo, 
às mãos que não se tocam na memória da casa prometida: 
o ar e a música do atlântico que preenchem o opúsculo. 
ver nascer a noite no local onde se viu nascer o dia, 
é, por vezes, o catalisador de uma ponta de nostalgia 
que fica em silêncio, no silêncio da despedida. 
não me posso esquecer da alma, que se barrica 
na pele de uma recordação quase dormente, 
mas em que me transformo intimamente. 
êxtases da praia, que a visão não explica. 


 [elipse]


segunda-feira, 27 de junho de 2016

encontrar-nos-emos


santa cruz, torres vedras | portugal


encontrar-nos-emos, porque o universo tende para o finito; 
porque há o sol, há a lua, há o azul e o desejo e o sonho; 
porque sabemos que temos que inventar o caminho 
e os nossos sentimentos iluminam todos os sentidos; 
porque teremos outra idade e poderemos ter ainda outra; 
porque o engano é um esquecimento que o tempo corrige; 
porque, mesmo de olhos vendados, os afectos conjuram 
e agasalham o nosso despudorado encontro. porque sim! 


 [elipse]


por dentro


santa cruz, torres vedras | portugal


não decretem a condenação das palavras. não é, 
apenas, a sua imprecisão e a sua insuficiência. 
cá dentro, nos locais da consciência, o presente 
é mais do que um hiato que deixa vários rastos 
e gradientes de passado, e que caminha para o futuro, 
que é incerto; abrange um período que, fisicamente, 
já passou e um período que ocorrerá em breve. 
não lhe estabeleci uma escala precisa e inflexível. 
também não sei quantificar o quanto e até onde amo. 
sei que há coisas, ou seres, de que gosto mais, mas 
valorá-lo, dimensioná-lo… quantificar… não consigo. 
é verdade que, também, nunca me esforcei para o fazer. 
dentro ou fora da ria, não sei explicar-te em que paleta 
de azuis e de verdes me pinto. creio que os prismas 
e os espaços mudam com o olhar e com a quantidade 
de alma que aplicamos no mesmo instante. e, deste 
sistema, mando cumprimentos para quem vai 
e para quem fica. eu, por cá, vou indo e ficando. 


 [elipse]


a nu


foz do arelho | portugal


traz, apenas, uma vaga ideia do amor, 
uma semente de alma, e não, unicamente, 
o corpo. com isso construiremos bosques 
encantados; criaremos anjos embriagados 
pela alegria, que abraçam dragões deslumbrados 
pelo fogo dos afectos; construiremos lares de paz 
profunda; ergueremos pontes entre verdadeiros 
universos, com estrelas que emanam o espaço 
que nos dá o tempo, a música e a luz. 


 [elipse]


tempo que vai





chegado ao nenhum sentido, talvez igual, 
a pobreza de quem escreve é, 
para além de não ter o que comer, 
ficar só e não ter o que escrever, 
[escrever que o ter não e só ficar…] 


 [elipse]


sexta-feira, 24 de junho de 2016

algumas formas




o acaso da invenção da palavra que inventou 
o corpo possuído pela razão e civilidade, procede, 
por si, à ascensão da compreensão e da transmissão. 
o corpo é todo um habitat de sentimentos analógicos 
onde, por vezes, o receio teme que alguém tome 
para si, palavras que não são de ninguém, conhecedor 
dos danos do hábito de conjecturar no escuro, ou a olhar 
directamente para a luz, ou quando em nuvens vagas. 
coisas que o humor mais descomplexado aprecia, 
com lances de mordacidade entre as suturas morais. 
qualquer corpo sabe que a palavra é insuficiente, 
e que, curiosamente, é a palavra que é quase imortal 
e, enquanto vive, a palavra pode voltar sob outras formas 
para ensombrar ou deleitar muitas e outras vidas. 


 [elipse]


com rodas e estações



a incerteza com rodas e estações. 
amar, amar, amar, enquanto a riqueza. 
a virtualização do amor e da alma, 
gravemente imaculados de tempo, 
rente ao presente, tempo verbal, 
enquanto crê que não é tarde. 

toda a miséria toma um novo caminho. 
ainda bem, é liberdade, e que existe 
para servir a ideia de seja o que for. 


 [elipse]
 16/06/2016


quinta-feira, 23 de junho de 2016

elipse


aveiro | portugal



que pergunta se impõe quando te deitas para dormir? 
fez-se tão tarde dentro das molduras 
onde a história dorme em contraponto. 

o átrio da tarde estendido aos telhados do amor, 
como escrita naturalista a sair do trabalho. 
a minha alma kitsch a pastar no largo vago, 
a debruar uma conversa finita sobre o tempo, 
e, aveiro, no seu lado inocente de alicerces na ria, 
com urgências a escorregar nas ruas, para abono 
do acto mágico do exercício pleno da vida. 

aqui houve uns raios de sol e uma providência 
impresumível, como antecâmara do verão, ou para 
compor o lugar-comum onde, de qualquer forma, 
atravessamos e pudemos encaixar «a sagração 
da primavera», de alma cheia, sem convencimento. 


 [elipse]


uma

  
aveiro  |  portugal



uma coisa é certa, 
eu não estava certo, 
e o relógio também não. 
a hora caminhava errática 
e tudo se me apaga em volta. 
o meu perseverante desencontro 
com o tempo, pedia-me para esperar. 
e veio a chuva, e veio o sol, e veio a noite. 
o tempo, sempre o tempo, a precipitar-se. 
contei andorinhas, gaivotas, pombas e pardais. 
contei automóveis brancos, vermelhos e pretos; 
mangas compridas e as curtas, e não sei que mais. 
as sombras foram perdendo o nome e a disciplina, 
e envelheceram os conteúdos publicitários. 
eu já pensava não chegar e a tanto parti. 


 [elipse]


quarta-feira, 22 de junho de 2016

junho com dedos de chuva e de cabeça cinzenta




de novo o cheiro da ria molhada e o ar denso, 
carregado de malogrados planos turísticos. 
junho também cai. junho também fica suspenso. 

o vento que me beija as pérolas de água do rosto 
não é o mesmo que balança as folhas das árvores, 
o mesmo que me alforria e me toma o gosto. 

e tanto faz, sem tacho, mas em lume brando, 
espalho-me ou espelho-me no lume de água 
às expensas do tempo, do tempo que expando. 


 [elipse]


de mente


vista sobre a cidade do porto, a partir de v. n. gaia | portugal


são as palavras a mostrar a língua ao desconhecido. 
de que cor hei-de pintar a intenção do mar realizado, 
como te descrevo o azul de um céu apaziguado, 
o tempo-silêncio, o som-espaço, o vento desiludido? 

a estação mudou a janela na invenção do sentido, 
emoção que caminha com o relógio, agora, regulado. 
não fosse a clara existência do universo enrugado, 
dir-se-ia que já não se reavia o rasto do tempo perdido. 

não sei se me quero descalçar, ainda mais, na amurada 
das palavras de regresso desejado de alma desenvolta. 
quem tem a porta aberta pode ficar com a alma trocada. 

no elementar do gesto de um abraço há animais à solta 
e um lugar, que sabe tão bem, de amabilidade ritualizada, 
capaz de serenar a folhagem trémula de uma alma revolta. 


 [elipse]


terça-feira, 21 de junho de 2016

com vénus, como estrela da manhã omnipresente




acordar com os pés em contraluz, fora do verso, 
e com os olhos nos teus, a descobri-los lentamente, 
como quem descobre o sentimento e o seu reverso, 
por baixo das tuas palavras, mechas sentimentais. 
desdobrar as asas e tornar o coração maior, em mente, 
no fruto dos meus vingados silêncios ornamentais. 
fomos o tão longe do que tanto somos do universo. 


 [elipse]


depois da sessão


aveiro | portugal


terminada a entrevista, cada parte regressa a si. de dentro 
do cavalo, assim como de dentro da última boneca, pode 
sair um zé povinho, um pequeno galo de barcelos, uma dúvida 
pungente, um sorriso, uma janela sem estação… ou quase nada. 
não importa… mas, no fundo, que não tem que ser um abismo, 
importa sempre. de dentro, a paz defende-se como pode, 
com a paz de uma alma, quando da última sai, por exemplo, 
uma ria desarmada e um deus que é tão só e apenas o amor. 


 [elipse]


quinta-feira, 9 de junho de 2016

elipse para elíptico




uma alma, qual cavalinho de tróia, de inquérito 
em sondagem, numas horas perdidas de uma 
perdida tarde, também, aclara, cuidadosamente, 
a voz, de origem luminosa, e, com total 
descontracção, evoca a providência da questão. 

uma alma, que procura a alma dentro dela, 
com se de matriosca se tratasse, responde 
até aos botões, e puxa pelo lustroso calão: 
assevera que não somou cuecas nem quecas 
em que de corpo, por amor ou em desamor, 
se tenha entregue, quanto mais a disposição. 


 [elipse]


quarta-feira, 8 de junho de 2016

de avental sem peitilho


  

já ninguém me embala a felicidade 
nuns cartuchinhos de papel pardo: 
flocos de neve, como doce metáfora. 
e a vida, com um dedo erguido, solidária, 
tão mansa e maliciosamente, a correr 
pela música, a pontuar e a fazer saudade, 
só mesmo inventada é que persiste 
em recordar os tempos em que as constelações 
cabiam na palma da mão, tão pequena, 
e ainda sobrava espaço para a lua 
e para toda a noite. mão de onde saltavam, 
como pipocas, as estrelas cadentes, 
que, afinal, possuíam uns estranhos dentes, 
e de quem a minha avó dizia que poderiam 
devorar o mundo. e devoram, avó, até as 
memórias, não as estrelas, mas uns estranhos 
deuses que se confundem com elas. 


 [elipse]


terça-feira, 7 de junho de 2016

a peito


aveiro | portugal


e já junho é um peito aberto, um espaço
de carga e descarga; de chegada,
permanência e partida.

o peito é um local de saudade, como o cais,
e, como este, também, um local de esperança.
um local seguro onde principia a insegurança
intrínseca, aquela que não se aprende
nem se ensina.


 [elipse]


segunda-feira, 6 de junho de 2016

enquanto a praia floresce


farol de aveiro, praia da barra - ílhavo | aveiro | portugal


enquanto a praia floresce em elipses inertes 
e o dia ameaça esvair-se num breve arrepio, 
há uma pobreza que tem fé no futuro 
e medo de não ter a audácia para o fazer. 

é a alma que mais receia perder o corpo 
e o corpo que menos teme perder a alma. 
o mês move-se com o à-vontade do indiferente 
e com os mesmos lugares-comuns da utopia. 

um longo e justo abraço, para esmagar a dor, 
para conjurar a serenidade da confusão da vida. 
uma forma primitiva, mas eficaz, de abranger. 

um resquício de algo verdadeiramente criador, 
que surge como que por um desejo extenso 
e indelével, de reconhecimento ancestral. 


 [elipse]


domingo, 5 de junho de 2016

basear


aveiro | portugal


por vezes o céu não tem tempo de beber todos os lamentos 
e eles caem indiscriminadamente sobre a terra ou sobre tudo 
aquilo que se lhes interponha, com a habitual indelicadeza 
do que está em cima e que julga devida ao que está abaixo. 
coisas que nos fazem crer que fazemos parte de qualquer coisa. 
e, numa sensação de desmoronamento, mais do que um sentimento 
de perda, abraça-se o vazio do firmamento que em nós habita 
e toma-se caminho, ou trabalha-se obstinadamente numa fábrica 
de ilusões. 


 [elipse]


sábado, 4 de junho de 2016

o velho da praia




talvez, um dia, seja eu o velho da praia, 
cheio de lugares-comuns, junto a um mar 
comunitário, ganhando a idade em rimas 
com anjos, que vagueiam pela terra, sem lar, 
vindos de um extremo do universo a muitos 
anos luz, muito antes dos homens terem nascido; 
cercado por gaivotas em densidade teórica, 
irradiando a loucura de todos os actos de amor, 
com a eternidade emaranhada nas ondas. 


 [elipse]


sexta-feira, 3 de junho de 2016

da zona íntima do poema


aveiro | portugal


adormeci, por fim, bem tarde na noite, a ria, que ainda rezava 
ave-marias de maio, com junho a traçar infinitos elípticos 
nas janelas receosas das margens do relógio que arrasta 
os minutos, num fim de pilha que se prolonga distraidamente 
na zona pública do poema. uns aparentes longínquos rumores 
de Beethoven, tentam, provável, devotada e rapidamente, 
recuperar, a pulso, esse perdido tempo, numas trifusas 
que os meus dedos já não tentam alcançar. insuficiência. 
ensino a minha alma a não temer o escuro. nada vai ser fácil. 
nunca o foi. 


 [elipse]


quinta-feira, 2 de junho de 2016

princípio e fim




poema de algibeira vazia 
que começa e acaba em mim, 
como um troco sentimental: 
eu, feito o câmbio afectivo, 
no poema princípio e fim. 


 [elipse]


quarta-feira, 1 de junho de 2016

não tenho muito.


costa nova do prado - ílhavo [aveiro] | portugal


por vezes não sei bem para que, ou de que, 
serve a verdade; ou onde está; ou, ainda, 
quem a tem ou se existe. contudo, acredito 
nela com uma espécie de fé, num exercício 
de libertação. a seu tempo desdobra-se 
e questiono o porquê de ter um tempo 
ou de ter um espaço. a verdade deveria ser 
apenas a verdade e não uma forma elástica, 
como que uma tábua de salvação inconstante 
ou como que uma vaca voadora, da moda. 
não tenho muito, nem o que tenho possuo 
verdadeiramente. 


 [elipse]