São dois indivíduos que estão fisicamente separados por centenas de quilómetros e separados, também, por uma geração. Um é alentejano e o outro é beirão. Estão unidos apenas por laços familiares acidentais e pelo notório afastamento em relação aos outros seres humanos. Razões iguais ou diferentes? Não sei.
A atenção para com os bichos e os animas foi-se intensificando cada vez mais. Foram criando barreiras por cada diferença que encontravam. As divergências de opinião transformaram-se em pontos de rejeição incontornáveis. O recurso à terceira pessoa para falar de si próprios começou por ser uma opção, mas rápido se aperceberam de que eram igualmente objectados e desistiram. Desistiram! Desistiram? Diariamente o alentejano abala de casa e percorre, errante, as ruas da sua cidade. Não se sente bem no seu próprio lar. Foge mais das pessoas que lhe são próximas do que dos estranhos. Foge! Foge?
Com o aurorar de um novo dia, o beirão também sai de casa. Corre do domicílio para as ruas da cidade que não sente sua. Olha para algumas das pessoas com quem se cruza sem querer comunicar, mas para absorver as emoções que logo escarnece. Olha! Olha?
Os cães vadios que encontram são mais importantes. Também estão sós. Não se abandonaram, foram abandonados. É esse o ponto de vista.