É o inverno retorcido e pegajoso, de cabelos em pé:
Depois de uma chuva e um vento, com vidraça, obstinados;
De um trilho de guarda-chuvas fortemente estropiados;
De uns dias de igual dimensão, com menos luz e menos fé.
O dezembro vai poderoso e não consegue fingir a maré,
De nu que está, irredutível em não repetir tempos
passados
E a terra deseja criar e recriar e criar, com versos
molhados
a dissolverem-se, inevitavelmente, num infatigável rodapé.
Agora, o sol, figura mais precisa, mas hesitante, de um
apego
De olhos abertos de espanto, vinca a paz do perene
desassossego,
Sôfrego, a mostrar que tudo permanece nos seus lugares
enfadonhos.
Quero surgir no avesso, do teu avesso, como que um aconchego,
A suavizar a teia de Natal, onde nos suspendem os sonhos,
Para resgatar-te desses anjos anafados e vagamente
risonhos.
[miscelânea]