Há instantes:
O amor adquiriu a transparência oblíqua da manhã.
Sentir, que a própria vida é e não é.
É o Vouga que aflui discretamente no tema,
Assim como de facto desemboca, de pé,
Mas sorrateiramente, na ria, um lema
Que disfarça o mar à ré.
O porquê de viver, de fazer versos, da fé,
Reside na vida do próprio poema,
Que a própria vida é e não é.
Neste momento:
O poema lê-nos os olhos, leva-nos pela sua mão.
Os flamingos aparentam ter sido plantados na ria,
Flamingos que aparentam ter plantado a aparente indiferença.
Posso, divorciado, amar a divorciada e ser isto alegria,
Apenas em mim; numa maré, apenas uma crença.
O amor e a solidão são, em si, muitas noites de insónia;
Navios de frustração, à entrada da barra, à espera de ponto,
Num mesmo porto de abrigo, antigo, sem cerimónia.
O amor, o seu conceito, é tão diverso como o da solidão;
É tão vago e impreciso como a própria realidade;
Tão semelhante e perfeito como a miragem ou a confusão;
Tão urbano, e a jeito, e tão feito de ruralidade.
A instantes:
A metafisica mais lenta do amor:
Talvez, amanhã.
[miscelânea]
[14 de julho de 2023]