sexta-feira, 14 de julho de 2023

Cubo

  
 
 
Há instantes: 
 
O amor adquiriu a transparência oblíqua da manhã. 
Sentir, que a própria vida é e não é. 
É o Vouga que aflui discretamente no tema, 
Assim como de facto desemboca, de pé, 
Mas sorrateiramente, na ria, um lema 
Que disfarça o mar à ré. 
 
O porquê de viver, de fazer versos, da fé, 
Reside na vida do próprio poema, 
Que a própria vida é e não é. 

  
Neste momento: 
 
O poema lê-nos os olhos, leva-nos pela sua mão. 
Os flamingos aparentam ter sido plantados na ria, 
Flamingos que aparentam ter plantado a aparente indiferença. 
Posso, divorciado, amar a divorciada e ser isto alegria, 
Apenas em mim; numa maré, apenas uma crença. 

O amor e a solidão são, em si, muitas noites de insónia; 
Navios de frustração, à entrada da barra, à espera de ponto, 
Num mesmo porto de abrigo, antigo, sem cerimónia. 

O amor, o seu conceito, é tão diverso como o da solidão; 
É tão vago e impreciso como a própria realidade; 
Tão semelhante e perfeito como a miragem ou a confusão; 
Tão urbano, e a jeito, e tão feito de ruralidade. 

  
A instantes: 
 
A metafisica mais lenta do amor: 
Talvez, amanhã. 
 
 
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 [14 de julho de 2023]