Os pássaros perdem as imagens, são uma confusão de sons sem
passagens,
e o dia vai, vai numa fila de contratempo; vai com poesia
e sem tempo.
Suponho, neste abraço rodoviário, que a vida pode ser um
sonho;
pode, um beijo imaginário, ser muito feliz, num fim de
tarde de calendário,
onde crescem paredes numa hera que veste um casaco de
primavera.
Aveiro está no choco, a incubar palavras sensíveis, no
ulmeiro.
Os canais, de céu descomunal, mas legível, acolhem a
noite exequível,
a noite inapelável, que tem mais asas do que voo provável
e a arte de estar ausente. Eu, não tenho nada; faço
parte, paciente.
[sobrevoo]