segunda-feira, 19 de julho de 2021

Fim e Início




Num olhar, carregado de gestos e dons,
Aguardas que desça do mar; que me vire;
Que me dispa dos reflexos e dos sons.
Pedes que me sente um pouco. Que respire.
Que tome uma posição natural, leve.
Dizes que, talvez, a ilusão baste para poder viver
E, como a vida, serás, simplesmente, breve.
Pedes que veja, ouça, sinta, saindo das emoções.
Estás num caminho que não te pode deter,
Que te movem distintos sentimentos e sensações.
Desenho um sorriso, como nos sorri uma errata.
Salta, a cidade, de encontro ao mundo e às obras,
Numa modernidade impressionante, que se quer imediata,
Ou que alguém não quer de todo. Um gesto de sobras.
Não encontro as palavras que me possam sobressaltar,
As palavras não encontram em mim o sobressalto
E o sobressalto está de cabelos em pé, sem palavra; sem ar;
Sem mim; sem trindade e sem princípio ou fim.
É o tempo onde tudo se apaga, ou dilui, e o tempo é um salto;
O mamilo dilatado que se abate; e o teto de um jardim.
Entretanto, antes e depois, sou livre e o desembaraço.
E posso não me sentar, não ouvir, não sentir, não ver…
Ou ser o abraço, tão só o abraço, tão tudo num abraço.
E, como uma ilusão, ser nada.
Não se chora o que não existe.
O poema não chora porque partiste.


[miscelânea]
[vários dias, até 19 de julho de 2021]

3 comentários:

  1. Pessoal/biográfico ou não, sinto o poema de forma serena, cheio de imagens/momentos e sentimentos. Sereno e simultaneamente em sobressalto, um aprazível sobressalto.
    Destacaria tantos verso, que retenho, mas repito este: "Não se chora o que não existe."
    Bjks

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  2. Um poema fantástico, que se desenrola numa série de sucessivas emoções, á velocidade do tempo... continuamente... sem principio nem fim... nunca nada pára... nem a vida... apenas se muda de armas e bagagens, para uma qualquer outra esfera... pois cada fim, sempre pressupõe um reinicio...
    Beijinhos! Feliz semana! Bom ter-te de volta! Tudo de bom!
    Ana

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