quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Medida de tempo


Recordo-me que és, não me esqueço, também o sou,
E olho para um horizonte que não me pertence.
De lado, num lanço que a memória vence,
Importa-me menos para onde vou.
Descruzado, ao jeito de uma aparência,
Segue-me a sombra e a sombra da consciência.

O teu sorriso ainda brilha na negrura da lembrança.
Há serenidade na imagem que perdura e guardo;
Que placidamente emolduro e resguardo;
Que egoistamente quero só para minha bonança.
Já não sei se é dor ou se há dor nesta ternura,
Ou se insistir na memoração é apenas loucura.

Não alcanço os sons nem concebo o toque.
Há uma ponte que se quebrou, embora una;
Um hiato aperfeiçoado pelo tempo de lacuna,
Instituída na alusão, que viaja a reboque.
O resto diviso. Uma imagem viva
De uma presença compreensiva.

Permito-me alegrar na alegria que perde a gravidade;
Entoar silenciosamente a melopeia atenuada pela distância;
Arrebatar e apenas; embeber a antiga e a nova infância;
Celebrar em festa e sem o travo amargo da saudade.
Sem atrevimentos discorro no que por aqui me vai,
Em memória, com coragem, revisito o meu querido pai.


4 comentários:

  1. Há sempre algo que une, algo muito transcendente.. que não se explica, sente-se.

    Beijinho e abraço :)

    ResponderEliminar
  2. Olá Henrique! Há e fica em nós sempre o amor mesmo que os nossos pais partam (eu felizmente não sei ainda o que é e espero não saiba muito cedo) mas uma inabalável presença, a gratidão a memória, toda uma vida que lhes é devida e nos deram e por mais tempo que passe a falta que nos fazem parece cada vez maior, não sei se interpretei bem o teu poema mas foi isso que me suscitou. O grande e não quantificável amor de um filho pelo seu pai. Bem hajas por ser quem és Henrique. Um grande beijinho meu amigo bfsemana

    ResponderEliminar
  3. Noctívaga:
    É esse o sentimento. Obrigado!
    Um grande abraço e beijinho

    ResponderEliminar

Obrigado, pelo seu comentário!