sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Sonhar


     "Aqueles que sonham de dia sabem muitas coisas que escapam àqueles que só sonham de noite."

     Edgar Allan Poe



Crispado


Procuro, perdido, uma luz que não conheço.

Ouvi dizer que tu também te sentes só,
Que remexes em coisas cheias de pó
Desse passado escondido e tropeço.


Bem conheço as conversas de outras gentes
E das vontades de facilitar a confusão.
Tão próximos estamos e tão separados são
Os nossos destinos de vidas diferentes.
Quero estar feliz contra os meus demónios,
Contra o cinismo circundante e opressor,
Contra o colega autocrata e ditador,
Engenheiro da detonação dos meus neurónios.


Não me sinto derrotado, mas cansado.
Perdido!? Só pelo fraquejar da força.
Não há porfia manhosa que me torça,
As lutas e disputas fazem parte do meu fado.


Porque não procuras essa luz comigo?
Vem juntar a tua dor solitária
À minha dor crua e desnecessária,
Faremos do mundo o nosso abrigo.
  
   

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Para Calipso



Estava essa ninfa do mar descansada na praia, 
Sem saber e conhecedora da morte
Que espera, todos os dias, pelo fruto do corte 
Da ceifa, que depois colhe e desmaia.
 
Esta ninfa, envolta em tecidos de cambraia, 
Fiandeira eterna de amor sem sorte, 
Não terá ela o poder da morte e da vida por porte? 
Calipso, como a história se repete e te alfaia.
 
Perdeu o amor que um dia a avassalou 
E ao mesmo tempo lhe servia de sustento. 
Um amor que sem dormir nunca mais acordou.
 

Uns dias ganha e em outros perde o alento 
E remexe na areia que se aquietou, 
Porque não é livre e já não está ao vento.