Para cá do medo do fim
Para além do olhar intenso,
Para cá do medo do fim.
Desta forma louca de me expressar,
Venho dizer a falar do sentir imenso
Alojado tão dentro de mim
Em êxtase, com vontade de me ultrapassar.
Quero a graça do discernimento
E a segurança de não ser errante.
Quero compreender, mas sem razão,
A sensibilidade sem tormento,
A dor aprazível, constante.
Intento expandido e sem explicação.
Advertido por sinais sem censura,
Aconselhado por sons sem enfado,
Avisado pelo entendimento sem reprimenda,
Procuro o motivo esta candura.
Sigo o curso do meu humilde fado
E despreocupo-me de qualquer emenda.
Os reventos florescidos neste Outono,
Quero preservar de inverno.
Aborreço-o embora ele exista e venha.
Seja como for, não estarei ao abandono,
Não farei parte do seu inferno,
Porque eu não quero essa senha.
E se algumas vezes eu errei
E se também eu andei perdido,
Isso não vai dar prova de ser incapaz.
E se algumas vezes eu esperei
E se também eu não fui ouvido,
Isso não dá o direito de me tirarem a paz.
Peso a dor de uma despedida.
Eu vivo e sigo por uma via,
Com origem de onde eu venho
E com destino a uma subida.
Se o olhar me trai e denúncia,
É pela afecção e pelo seu empenho.
Às vezes tudo parece pouco claro.
Por vezes até parece irreal.
É a vida a dar voltas para lá
E eu a dar voltas sem amparo.
Pareço errado e a fazer tudo mal,
A correr mas a ficar cá.
Eu não desespero e penso chegar
A sentir de novo, contra o meu peito,
A força de um abraço forte.
Só ele me poderá descansar.
E depois, quando estiver já refeito,
Poderei sonhar com melhor sorte.
Para cá do medo do fim,
Para onde eu não quero ir,
Não vou estar, nem lutar contra mim.
Albergaria-A-Velha, 09 de Dezembro de 2000.