quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

No tempo de um espaço




Eu, à janela, em pé, como que dentro de um vidro, esgoto as palavras; 
esvaio-me em poesia, que não o é, como se fevereiro caísse com o natal 
debaixo da asa e a primavera, prometida, mas já inaugurada, ao colo. 

Aparenta ser um destino cruel, com uma insensatez grosseira, 
mas mais não é do que uma coisa muito, muito simples e primária: 
As asas da noite pairam nas minhas mãos, onde pare a lua, com as estrelas 
a encontrarem o complexo: a janela aberta; a ausência de cortinas; 
a luz muito acesa, no peito; a noite muito apagada e emboscada, na cabeça, 
o universo; a indelével ausência de sentido ou o seu fio solto na maré. 

A esta hora da noite, não há um táxi que me transporte para o lado 
do tempo, para que eu diga, num extenso e efusivo discurso: Lindo. 


 [sobrevoo]



O que fica




Hoje, aprendi a voar para trás. 
Aprendi com a ria, que me paga amanhã. 
Mas, ainda não sei voar de costas, 
nem como quem nada. Nada. 
Diz-me, o voo, que é impossível, fazê-lo. 
Não sabe o voo, não o sabe ninguém, 
mas, eu tenho vivido o impossível, 
com o incumprimento da possibilidade. 


 [sobrevoo]