Eu, à janela, em pé, como que dentro de um vidro, esgoto
as palavras;
esvaio-me em poesia, que não o é, como se fevereiro
caísse com o natal
debaixo da asa e a primavera, prometida, mas já
inaugurada, ao colo.
Aparenta ser um destino cruel, com uma insensatez
grosseira,
mas mais não é do que uma coisa muito, muito simples e
primária:
As asas da noite pairam nas minhas mãos, onde pare a lua,
com as estrelas
a encontrarem o complexo: a janela aberta; a ausência de
cortinas;
a luz muito acesa, no peito; a noite muito apagada e
emboscada, na cabeça,
o universo; a indelével ausência de sentido ou o seu fio
solto na maré.
A esta hora da noite, não há um táxi que me transporte
para o lado
do tempo, para que eu diga, num extenso e efusivo
discurso: Lindo.
[sobrevoo]