quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

No tempo de um espaço




Eu, à janela, em pé, como que dentro de um vidro, esgoto as palavras; 
esvaio-me em poesia, que não o é, como se fevereiro caísse com o natal 
debaixo da asa e a primavera, prometida, mas já inaugurada, ao colo. 

Aparenta ser um destino cruel, com uma insensatez grosseira, 
mas mais não é do que uma coisa muito, muito simples e primária: 
As asas da noite pairam nas minhas mãos, onde pare a lua, com as estrelas 
a encontrarem o complexo: a janela aberta; a ausência de cortinas; 
a luz muito acesa, no peito; a noite muito apagada e emboscada, na cabeça, 
o universo; a indelével ausência de sentido ou o seu fio solto na maré. 

A esta hora da noite, não há um táxi que me transporte para o lado 
do tempo, para que eu diga, num extenso e efusivo discurso: Lindo. 


 [sobrevoo]



6 comentários:

  1. Nas asas da noite tens a lua e as estrelas
    por isso não precisas de mais nada...
    belo poema
    beijinhos
    :)
    :)

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  2. vivemos muitas vezes de dia e de noite trancados em vidros, espelhos, vivendo a ilusão dos dias.
    beijinhos

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  3. Uma prosa poética tão densa, quanto leve... e um espaço tão preenchido de sensações, brilhantemente construído, neste teu trabalho!...
    Adorei! Parabéns, Henrique!
    Beijinho
    Ana

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  4. O poeta como janela, de onde podemos ver para fora e para dento. Simples, assim, mas denso, intenso.
    :)
    Bjks

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