Não interessam as páginas que faltam ao capítulo digital
do sobrevoo
de uma página, também ela, digital; nem o seu próprio
esquecimento.
Estremece-me a forma da possibilidade de ingratidão que
vejo em mim
e alimento linhas que possam remediar os voos que não o puderam
ser.
Entretanto, observo. Vivo o tempo. Não julgo, ou julgo
não o fazer.
Creio que, o senhor, de longas barbas brancas, procura uma
qualquer
coisa nas raparigas de calções muito curtos. Será que,
também eu, olho,
assim, para as coisas da vida? Que longas, ou curtas,
coisas se veem
em mim? O que não estarei eu a ver na pele lisa e bronzeada,
que muito
parece gritar às barbas de uns e aos rostos bem
escanhoados de outros?
Ou terei eu, ou serei eu, essa expressão astuta e
predatória de animal
faminto, que vê nos outros coisas que em mim existem? Haverá
alguma
qualquer espécie de crime, numa qualquer espécie de
olhar?
Não ressuscita, nessas carnes que passam, o corpo que poderia
ebulir
no intervalo dos braços de mãos desarrumadas e ferventes,
uma que escreve
outra que segura o papel; não me resvalam, ou trepidam, nádegas
ou seios
pela mente, não por uma espécie de moralidade, ou de censura,
ou de pudor.
Fecho os olhos. Há um vazio luminoso que se enche de magia,
cidade e ria.
Sou eu, outra vez!
[sobrevoo]