sexta-feira, 13 de maio de 2022

Imediações




Ao alheio redondo empertigamento, de passagem, 
Um verso, como uma provocação gramatical, 
Como uma frase fora do ponto, à margem, 
Que me põe de parte e me leva aos poemas escondidos. 
A soma nem sempre revela um mesmo total 
E hoje, encontrei um novo lugar para ler a vida. 
Estenderam-se as palavras a baralhar os seus sentidos, 
Que são os meus e que podem ascender ao infinito, 
O modo de ver-me no fundo. 
No fundo, eu não estou lá, espalhei-me pelo mundo. 
 
É tão fácil comer a felicidade ou a própria fome 
E saciá-la aparenta ser o que nos consome. 
De que é feita a minha fome, a tua, a nossa? 
 
Seremos escravos numa determinada imaginação, 
Determinados sejamos para o não ser, sendo, 
No golpe preciso do nosso coração. 
Esqueço, simplesmente, a caixa, alheia, de apostas. 
Esqueço a incerteza da divisão, nas minhas costas, 
Como quem sustem a respiração para ver o fundo da água, 
Ou o que há no seu fundo; ou como mergulhar sem mágoa 
Na dor que é ser-se invisível. 
Visível é o verso gramatical e formalmente incorreto, 
Mas, variável e simultaneamente, sensível. 
 
 
 
 [miscelânea]
 [04 de maio de 2022]
 
 
 

2 comentários:

  1. É o ficar por perto, a imediação, e estar. O poema deixa-me um misto de emoções tão boas.
    bjks

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  2. A poesia é a alquimia das sensibilidades... que dá visibilidade, ao que até aí, ainda não tinha sido visto... pelo mesmo prisma, de quem a imaginou...
    Mais um poema com uma concepção admirável...
    Beijinhos
    Ana

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